São Paulo, domingo, 21 de maio de 1995
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SBT rende-se ao professor que transforma modelo em atriz

ARMANDO ANTENORE
DA REPORTAGEM LOCAL

Ela tem os olhos azuis e um sonho dourado -virar estrela de novela. Tem os olhos, o sonho e também um contrato de dois anos com o SBT. Só que, ela mesma admite, ainda não sabe atuar.
A modelo paulista Ana Paula Arosio, 19, é o novo desafio do professor José Roberto Silveira Filho.
Nas redes de televisão, todo mundo o conhece. Beto Silveira, 44, especializou-se em dar aulas de interpretação para rostinhos bonitos.
Entre 86 e 91, trabalhou na Globo. Carregava um crachá com título pomposo: coordenador de desenvolvimento de recursos artísticos.
Na prática, descascava abacaxis. Preparava novatos, principalmente modelos, para papéis de destaque em novelas da emissora.
Isadora Ribeiro, Letícia Sabatella, Humberto Martins, Victor Fasano, Lizandra Souto e Teresa Seiblitz passaram pelas mãos de Beto -que, hoje, leciona na Academia Ruth Rachou, em São Paulo.
É lá que, desde outubro, Ana Paula Arosio frequenta o curso ``Palco Studio", com duração mínima de 20 meses.
Modelo de sucesso há sete anos, resolveu se aventurar pelo mundo das telenovelas no início de 94, quando o SBT a convidou para participar de ``Éramos Seis".
Fez um papel pequeno -o da personagem Amanda, pobretona que costumava se fingir de rica. Ficou poucos dias no ar, mas agradou à emissora, que se apressou em lhe oferecer contrato mais duradouro.
O SBT acredita que Ana Paula pode se transformar numa atriz de carisma. Tão cedo, porém, não pretende lhe entregar outro papel.
Quer, primeiro, que a modelo estude. Matriculou-a no curso de interpretação e só vai colocá-la novamente em cena quando Beto Silveira der sinal verde.
Fasano
Nem sempre o professor tem tanto tempo para forjar um ator. ``Na Globo, o ritmo é outro", compara.
Em 90, por exemplo, recebeu a visita apressada de um executivo da emissora.
``Beto, queria te apresentar o Victor Fasano", disse, apontando para o rapaz que o acompanhava. ``É um modelo experiente, nunca trabalhou em novela, mas vai protagonizar `Barriga de Aluguel', a próxima das seis. Você poderia prepará-lo?"
Silveira espiou o relógio. Eram 16h. ``Lógico que preparo", respondeu. ``Quando ele grava a primeira cena?"
``Hoje, às 22h", informou o executivo, deixando a sala.
Em casos assim, ``mais comuns do que se imagina", Beto Silveira transmite cinco dicas básicas para o candidato a galã. A última é: procure com urgência um bom curso de arte dramática (leia quadro acima).
``Não se tira ator da cartola", sentencia. ``Quem quiser entrar na profissão precisa de muito estudo e ensaio. Não dá para o sujeito achar que sabe interpretar só porque aprendeu meia dúzia de fórmulas prontas. É como fritar um ovo e sair espalhando que fez um banquete."
O professor evita maiores comentários sobre ex-alunos, em especial os que ficaram famosos. Ressalta, apenas, que nem todos se contentam com o próprio desempenho diante das câmeras. ``Sentem que ainda têm limitações. Fazem de tudo para melhorar, mas às vezes desanimam e pensam em desistir, em largar o papel pela metade."
Paulistano, Beto Silveira dá aulas há 25 anos. Já ministrou cursos na Escola de Arte Dramática (EAD), no Centro de Estudos Macunaíma e no Teatro Célia Helena, todos em São Paulo.
Foi assistente do célebre diretor e ator russo Eugênio Kusnet (1898-1975), que morou muito tempo no Brasil e escreveu livros sobre interpretação teatral.

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