São Paulo, segunda-feira, 22 de maio de 1995
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Reitores aprovam 'lista dos produtivos'

DA REPORTAGEM LOCAL

Reitores aprovam `lista dos produtivos'
Físico da Universidade Federal do Rio estranha sua ausência na relação e diz ter citações suficientes para ser incluído
``Um mapa da produção científica no Brasil." Assim o reitor da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), José Martins Filho, 51, classificou a reportagem do caderno Mais!, da Folha, que ontem divulgou a relação dos 170 cientistas brasileiros cujos trabalhos mais repercutiram no exterior entre 1981 e 1993.
A lista, obtida com exclusividade pela Folha, foi preparada com base em dados do Instituto para a Informação Científica, entidade privada dos EUA que compila as citações recebidas por trabalhos científicos nas publicações especializadas.
O número de citações é um dos parâmetros mais usados hoje para medir o impacto de uma pesquisa. Só entraram na lista os brasileiros com mais de 200 citações no período.
Um dos mais prestigiados físicos do país, Moisés Nussenzveig, da Universidade Federal do Rio de Janeiro, estranhou sua ausência na relação. ``Devo ter entre 650 e 750 citações no período pesquisado", afirmou.
Segundo Nussenzveig, a ``base de dados do ISI permite várias leituras". ``É um indicador importante, mas deve ser usado na prescrição e dosagens certas."
A Universidade de São Paulo é a instituição com maior número absoluto de citações, 38.977. O reitor da USP, Flávio Fava de Moraes, disse que ``o trabalho está fundamentado numa base que tem credibilidade".
Há sete anos, a Folha publicou uma relação diferente, a chamada ``lista dos improdutivos", com nomes dos docentes que segundo a reitoria da USP nada haviam publicado em 1985 e 1986.
Segundo o reitor Fava, a lista dos 170 permite uma observação: ``A grande maioria dos pesquisadores citados tem mais de 50 anos e começou a fazer ciência muito cedo. O que significa que o cientista precisa trabalhar ao longo de muitos anos."
Martins Filho, da Unicamp, disse que a posição de sua universidade -que ocupa o terceiro lugar em número de citações por docente- seria melhor se o levantamento considerasse os anos de 94 e 95. ``Dobramos nossa produção nesse período."
Arthur Roquete de Macedo, 51, reitor da Universidade Estadual Paulista (Unesp), afirmou que o trabalho ``permite a aferição da produção científica dos pesquisadores e seu impacto na comunidade científica mundial". A Unesp só tem um professor na relação.
``O critério não leva em consideração atividades essenciais como a qualidade do ensino e não avalia de forma adequada pesquisas de âmbito nacional e regional, área em que a Unesp mais se dedica", criticou Macedo.
Isso explicaria o fato de a Unesp ter apenas 0,56 citação por docente contra 10,93 da Escola Paulista de Medicina.
Myriam Krasilchik, vice-reitora da USP e ex-diretora da Faculdade de Educação, disse que o critério adotado ``é importante, mas poderia ser enriquecido com outras formas de avaliação". Nenhum pesquisador da área de humanas aparece entre os 170 mais citados.
``Muitos trabalhos nessa área são divulgados em publicações que não constam da lista de revistas pesquisadas", alegou.
O geógrafo Aziz Ab'Saber, presidente da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC), disse que as pesquisas hoje mais citadas são aquelas que permitem um ``valor agregado maior". ``Muitos pesquisadores e recursos estão voltados para tecnologias de ponta que permitem uma industrialização e um retorno rápidos", comentou Ab'Saber.

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