São Paulo, segunda-feira, 22 de maio de 1995
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Rota da Coca desenha mapa da Aids

CLAUDIO JULIO TOGNOLLI
DA REPORTAGEM LOCAL

O crescimento dos casos de Aids está ocorrendo nas cidades em que, tradicionalmente, é maior o tráfico de cocaína.
O número de usuários de drogas injetáveis (UDI's) infectados pelo vírus da Aids já representa 25% dos novos casos da doença registrados no Brasil.
Uma tese defendida na Escola Nacional de Saúde de Pública, da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz-RJ) revela que a a rota da cocaína ajuda a desenhar o mapa da Aids no país: as cidades com maior número de casos situam-se nas principais rotas de tráfico da droga -que saem dos países andinos e chegam no litoral brasileiro.
A tese foi desenvolvida pelo médico sanitarista Francisco Inácio Bastos, com a colaboração do geógrafo Christovam Barcellos.
Os pesquisadores se valeram de informações colhidas pela Polícia Federal e do Programa de Controle de Drogas das Nações Unidas (UNDCP).
A maior parte da cocaína entra no Brasil através das fronteiras com a Bolívia e o Paraguai. A droga chega, por via aérea ou terrestre, até Corumbá e Campo Grande (MS). Em Corumbá, a incidência de Aids entre os usuários de drogas injetáveis (udi's) gira entre 25% e 49% e em Campo Grande, está entre 12% e 24%.
Registram-se cifras inesperadas quando analisadas as rotas que chegam ao Estado de São Paulo. Em 23 cidades paulistanas de médio porte as taxas de contaminação de udi's está entre 50 e 83%.
O estudo sustenta que em cidades com tal incidência -Campinas, Ribeirão Preto, São Carlos, São José dos Campos, Franca e Araçatuba, interior paulista- os traficantes encontram boas estradas para transporte da droga, ótima estrutura comercial e bancária, além de um mercado consumidor atraente.
O estudo também revela que, até 1986, os casos de Aids eram registrados apenas nas grandes metrópoles.
Atualmente, um terço das cidades brasileiras tem registrados casos de Aids.
Números fornecidos à Folha pelo Departamento Estadual de Narcóticos de São Paulo (Denarc) revelam que, em 1984, foram apreendidos no estado 18 quilos de cocaína. No ano passado, a cifra saltou para 841 quilos, o que revela um aumento de 4.450% no volume da apreensão em dez anos.

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