São Paulo, segunda-feira, 22 de maio de 1995
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Reforma bancária pode demorar até seis meses

SÔNIA MOSSRI
DE BUENOS AIRES

A reforma do sistema financeiro argentino pode levar até seis meses. O governo adiou a liquidação de 40 bancos que estão insolventes por temer que um tratamento de choque para solucionar a crise bancária afete o retorno de depósitos após a reeleição do presidente Carlos Menem.
O fundo especial de socorro à rede bancária, com US$ 2,5 bilhões em empréstimos do FMI (Fundo Monetário Internacional), bancos comerciais e Banco Mundial, tem prazo previsto para operar durante seis meses.
Na prática, o ministro da Economia, Domingo Cavallo, está autorizando o funcionamento de instituições financeiras que, pelas normas legais do Banco Central, teriam que ser liquidadas.
Estes 40 bancos não têm como pagar os compromissos em dia. Cavallo optou pelo fechamento ou incorporação gradual destas instituições a grandes bancos.
As principais entidades representativas de bancos já se manifestaram contra a estratégia de Cavallo.
A Adeba (Associação de Bancos Argentinos), que reúne bancos nacionais, e a Abras (Associação de Bancos da Republica Argentina), composta por bancos estrangeiros, defendem o imediato saneamento do setor financeiro.
Ele tomou a decisão quando recebeu dados do Banco Central mostrando que houve aumento de US$ 1 bilhão nos depósitos bancários nos cinco dias após a reeleição de Menem, no dia 14 de maio.
Cavallo chegou a mudar o tom do discurso. Já fala que o completo saneamento do sistema bancário ``levará um ou dois anos".
A determinação do ministro é que a equipe econômica evite qualquer movimento que possa tumultuar o mercado e prejudicar o resgate da confiança dos argentinos no sistema financeiro.
O Banco Central não divulga publicamente os bancos que estão insolventes. Mesmo assim, os argentinos estão preferindo concentrar seus novos depósitos em 10 grandes bancos, com credibilidade junto ao mercado.
Dentro de um mês, de acordo com o secretário de Coordenação Legal, Técnica e Administrativa, Horacio Liendo, estará pronto o estatuto do Sedesa (Seguros de Depósitos S/A).
O Sedesa terá como tarefa a administração do Fundo de Garantia de Depósitos, que financiará o pagamento de até US$ 10 mil a cada correntista que tiver contas em instituições fechadas pelo Banco Central.
A avaliação do mercado financeiro é que os bancos desembolsarão cerca de US$ 300 milhões ao mês para a formação do Fundo de Garantia de Depósitos.
Cavallo afirma que ``dentro de um mês e meio será restabelecido o crédito, com um patamar de taxas de juros como se praticava antes da desvalorização do peso mexicano".
Além do sistema financeiro, Cavallo adotará um novo conjunto de medidas para tentar cumprir as metas acertadas com o FMI: novos cortes no Orçamento Federal, fechamento de órgãos públicos, privatização do sistema de saúde aos aposentados e desregulamentação do seguro saúde.
A idéia é criar um mecanismo pelo qual os aportes obrigatórios dos trabalhadores em seguro saúde possam ser colocados em entidades de sua preferência.
Atualmente, isto não é permitido legalmente. Os aportes dos trabalhadores vão para as ``obras sociais" dos sindicados.

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