São Paulo, segunda-feira, 22 de maio de 1995
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Sorte de uma bola nos pés de Viola

MARCELO FROMER; NANDO REIS
ESPECIAL PARA A FOLHA

Se, por um lado, é financeiramente privilegiada a situação do atacante Viola, em virtude de sua transferência para o Valencia de Parreira (aquele que fez com que o explosivo atacante jogasse apenas 15 minutos na Copa, lembra?), por outro, deve estar sendo um tanto difícil para este grande ídolo da fiel ter que largar o seu amado Corinthians.
A torcida vive também seus dias de aflição e luto com a perda irreparável deste craque absoluto. Não há relação de idolatria maior do que aquela que se estabelece com um centroavante. No caso do alvinegro, então, é crônica e clássica a paixão pelo camisa nove. De Lance a Geraldão, a fiel havia encontrado em Viola o substituto ideal para o reinado do grande Casagrande. Agora é chegada a hora da separação!
Quando um jogador é vendido e se transfere imediatamente para seu novo clube, a seção desse cordão umbilical invisível é rápida e fulminante. Mesmo que ainda respingue durante algum tempo pelas páginas do noticiário o bálsamo da montanha de dólares, deixando a ilusão e a promessa de cicatrizar essa dor com a vinda de outra contratação.
Mas, quando o jogador ainda permanece no clube antes de sua ida definitiva, essa tortura parece tomar contornos de puro sadismo com requintes de crueldade.
Nesse caso específico, ele -que vinha há tempos em um jejum atípico para sua permanente fome de gols- acabou por presentear sua fiel torcida com dois gols, na classificação para as semifinais da Copa do Brasil. Paradoxalmente, para alguns daqueles torcedores, talvez fosse preferível assistir à partida do grande ídolo no período das vacas magras de seus tentos a presenciar o reencontro com as redes já maculadas com o tempero ibérico de suas futuras núpcias.
Nos últimos tempos, ninguém mais que Viola traduziu e mimetizou o conceito verdadeiro do que é ser um ídolo popular. A garra, a técnica, a irreverência, a explosão, o humor, o amor à camisa de seu time e a sua fiel torcida estiveram sempre evidentes em suas comemorações e no seu modo de atuar dentro e fora do campo.
Viola está prestes a fazer seu centésimo gol com a camisa do Timão. Se não o fez ontem (vale lembrar que esse artigo foi escrito antes), e mesmo que não o venha a fazer, não é mais isso que importa. Ele disse que ainda tem jogado no Paulista só por amor e sem seguro.
Diante disso, torna-se até patético desperdiçar essas linhas comentando a ridícula figura de Dunga, com suas broncas ostensivas. Aqueles que não têm o que dizer com os pés acabam precisando muito das mãos...

A contribuição para as mudanças nas regras do futebol vem do interior paulista:
``O árbitro e os bandeirinhas deveriam usar `cães-policiais-guias', já que nosso juízes estão cegos; os cães serviriam também para morder os jogadores violentos." (Douglas dos Santos Pinto, Patrocínio Paulista, SP)

Cartas podem ser enviadas para a Editoria de Esporte, al. Barão de Limeira, 425, 4º andar, São Paulo, SP, CEP 01290-900

Marcelo Fromer e Nando Reis são músicos e integrantes da banda Titãs

Texto Anterior: Times `fogem' da 2ª divisão
Próximo Texto: Botafogo empata sem gols com Fluminense
Índice


Clique aqui para deixar comentários e sugestões para o ombudsman.


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.