São Paulo, segunda-feira, 22 de maio de 1995
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Vitória projeta crise para o outro Parque

ALBERTO HELENA JR.
DA EQUIPE DE ARTICULISTAS

Ontem à noite, bateram-se todos os recordes de venda de pizzas nas cantinas do Bexiga, Brás e Barra Funda. E, no auge das celebrações, Márcio Araújo adquiria o status de ladino estrategista; Magrão, autor dos três gols, era elevado aos céus; a crise recebia um bico que a projetava para longe do Parque em festa.
Não importava que o Corinthians atuara dois terços da partida com dez jogadores, em razão da expulsão infantil, mas justíssima, de Souza, tampouco que o gol de Bernardo, aquele que decretaria o empate, fôra legalíssimo, apesar da anulação do juiz.
Afinal, era dia de festa no verde Parque. No outro, porém, restou apenas um forte cheiro de incenso.

O São Paulo, apesar da liderança e da excelência do seu elenco, sobretudo do meio-campo pra frente, ainda não conseguiu atingir o ponto ideal. Venceu, sábado, o Rio Branco, por 2 a 0, mas ficou devendo. É bem verdade que jogou sem alguns titulares, como o artilheiro Bentinho, hoje em dia indispensável nessa equipe. E segue capenga do lado esquerdo, onde Murilo é um figurante, sem voz nem ação. O rapaz está tão deslocado por ali que passa o jogo todo de costas para a linha lateral, tentando arrumar a bola para a sua perna direita, a que comete menos impropriedades. Não seria o caso de lançar um garoto qualquer dos juvenis ou juniores, canhoto, típico da posição, enquanto André e Ronaldo Luís não vêm?
A propósito, no jogo do meio de semana o Morumbi estava tão vazio que o clamor de um torcedor ecoou claro até o banco tricolor: ``Telê! Inverta os laterais, Telê!" O velho mestre se irritou. Mas não deveria: embora nem sempre a voz do povo seja a voz de Deus, neste caso, eis um conselho sensato.
É o futebol jogado na sua essência: de tão sofisticadamente inteligente, vira uma coisinha simples como quê.

E a Juve, afinal, levantou a taça, de fresco, doce e puro Lambrusco. Mais que isso: humilhou o Parma, que lhe roubara a Copa da Uefa no meio de semana, com uma goleada histórica: 4 a 0. Graças ao talento de Baggio, ao oportunismo de Vialli e, sobretudo, ao empenho de Ravanelli, esse brancaleone de Turim, capaz de alternar as jogadas mais insólitas com lances de um refinamento da mais alta aristocracia piemontesa. Fez dois gols e meteu uma bola para Baggio preparar de calcanhar para o francês Deschamps, no segundo gol, de tal sutileza que até sir Lancellotti desabou do seu branco corcel.

O clássico Ajax e Feyenoord está para os holandeses como, para nós, um Corinthians e Palmeiras. Pois o Ajax, já ostentando a faixa de campeão, deu-se ao luxo de pegar o seu mais ferrenho rival sem meio time titular, poupado para a decisão européia contra o Milan, na quarta-feira. Resultado: Ajax, 5 a 0, jogando, no dizer do saudoso Saldanha, como se chupasse um picolé.
Que se cuide o grande Milan.

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