São Paulo, segunda-feira, 22 de maio de 1995
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VÔO PILOTO

LUÍS PEREZ
DA REPORTAGEM LOCAL

Rodrigo Marzal Hernandez, 22, 36 horas de vôo, estuda direito, mas o que ele quer mesmo é ser piloto -carreira considerada própria de ``mauricinhos", por ser muito cara.
A convite da EWM Aviation Groun School, a reportagem da Folha acompanhou um de seus primeiros vôos.
Foi seu primeiro pouso por instrumentos (equipamento de orientação da aeronave usado quando não há visibilidade).
Rodrigo conduziu o Tupi EMB-712, um monomotor de quatro lugares, durante uma hora no trajeto de ida e volta entre o aeroporto de Congonhas, em São Paulo, e a cidade de Jundiaí (60 km a noroeste de São Paulo).
Na hora de retornar para São Paulo, o aprendiz enfrentou seu maior contratempo. Uma névoa seca envolveu o avião. Não se enxergava mais nada.
Ele teve que voltar seguindo as instruções da torre de comando, que orientava para onde ir, a quantos pés subir, descer etc.
``Nunca havia voado com um tempo assim. Os equipamentos que eu uso não permitem", diz.
Normalmente ele pilota um Aero-boero AB-115 (um monomotor menos sofisticado que o Tupi), que só sai do chão com tempo bom.
O aprendiz fala que não sentiu medo.``Pelo contrário. Foi mais legal ainda. O imprevisto me ajudou a enxergar um lado da profissão que só vou ter daqui a umas 60 horas de vôo."
``Não podia ficar inseguro. Estava ao lado do instrutor", afirma, referindo-se a Geancarlo Fornari, 26, 1.300 horas de vôo, do Aeroclube de Sorocaba (87 km a oeste de São Paulo).
Ser instrutor de vôo é a etapa da carreira considerada uma ``ponte" para conseguir um bom emprego em uma grande companhia aérea. É nisso que Rodrigo está de olho.
Foi no ano passado que resolveu que a profissão de advogado iria pelos ares. ``Entrei em uma crise de adolescência e decidi que não quero ser advogado", diz Rodrigo, que nega ser um dos mauricinho da aviação.
Além de estudar à noite -faz direito em São Bernardo do Campo (SP)-, ele trabalha em uma empreiteira e voa durante os fins-de-semana.
Tinha carro e telefone. ``Vendi tudo e vendo a mãe se for preciso para fazer o curso de piloto. Estou fazendo muito sacrifício. Até agora desembolsei R$ 2.500. Tenho reservados, prontos para gastar, uns R$ 7.000", diz.
O que custa caro durante o curso é a aula prática (leia texto nesta página). ``Mas sem dúvida compensa. É o que eu quero."
É uma profissão perigo? ``Não, é só dinâmica", diz.
Rodrigo gosta tanto de aviação que trocou as ciências humanas pelas exatas, que odiava. ``Peguei carinho à área de exatas aliada à prática", conta. ``Não sirvo para ficar no escritório."

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