São Paulo, segunda-feira, 22 de maio de 1995
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Steve Zee conta histórias com os pés

SYLVIA COLOMBO
DA REDAÇÃO

O bailarino norte-americano Steve Zee está no Brasil para mostrar que o sapateado pode contar a história -ou melhor, a história dos Estados Unidos. ``É coisa típica de americano, faz parte do nosso folclore nacional."
Zee é tão convicto disso que vai fazer com que os Heartbreakers, banda brasileira acostumada a tocar mambo, salsa e outros ritmos latinos, entrem no ritmo do jazz de Duke Ellington.
A apresentação, na próxima quinta-feira na União Cultural Brasil-Estados Unidos, faz parte das comemorações da ``Semana do Sapateado", que começa hoje (leia programação abaixo).
Sua geração foi influenciada por Fred Astaire, Ginger Rogers e os musicais cinematográficos em geral. ``Hoje em dia há uma enorme diferença entre a música que se usa para dançar profissionalmente e a que se ouve no rádio. Isso não acontecia naquela época e é um pouco perigoso."
Imitação parece ser a chave deste negócio. Depois do filme ``O Sol da Meia-Noite" (``White Nights", 1989), de Taylor Hackford, o sapateado foi procurado nos EUA por muitas crianças e jovens que queriam aprender os passos da dupla Gregory Hines e Mikail Barishnikov.
``Hoje em dia o melhor representante da arte de sapatear é o rap." Esta combinação de música e poesia inspira a dança de passos marcados que soam junto com a batida. ``Os rappers proliferam-se pela imitação da dança de rua."
Como é possível aprender a sapatear apenas por meio da imitação de passos tão rápidos é um problema só compensado pela sensibilidade. ``Dançar é expressar a música, fazer com que ela soe por meio de você."
Isto não é nada fácil, e o próprio ator e sapateador Gregory Hines admitiu em entrevista para a TV americana: ``Minha vontade é ver as cenas em câmera lenta e também ensaiar em `slow motion' ".
O sapateado surgiu nos Estados Unidos no século 19. Sua origem está na mistura dos passos dos imigrantes irlandeses, que usavam pesados tamancos para dançar, e o ritmo das danças dos escravos negros libertados. Nova York seria tomada pela febre que contagiaria a Broadway nos anos 30.
Dia 25 de maio é considerado o Dia Internacional do Sapateado por ser a data de aniversário do sapateador Bill Robinson, que foi parceiro de Shirley Temple.
Zee acha que a boa música é aquela flexível para sapatear. ``O jazz é a mais maleável". Ele aponta para o perigo que representa a má música para a dança.
``Dance music é um horror, que tipo de passos ela pode inspirar?" O rock, segundo ele, tem batidas fortes, mas é muito rígido e não permite a improvisação.
Fã da música e dos ritmos negros, ele acha que a interpretação coreográfica de brancos e negros nunca será a mesma. ``Os brancos fazem pose e exageram na performance. Os negros dançam desabando e não ligam para a beleza dos passos, mas seu envolvimento com a música é muito maior."
Zee estudou com alguns mestres do sapateado, como Steve Condos, Eddie Brown e Stanley Kahn. Além da influência do cinema, ele se diz estimulado pela música de Joe Pass, Chet Baker e os Beatles. ``É possível sapatear ao ritmo de todos eles, posso sapatear até a bossa nova."

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