São Paulo, segunda-feira, 22 de maio de 1995
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Adeptos de seita Aum acusam Asahara

DAS AGÊNCIAS INTERNACIONAIS

O médico Ikuo Hayashi, 45, e o químico Seiichi Endo, 30, membros da seita Aum Shinrikyo (Ensinamento da Verdade) confessaram em depoimento à polícia japonesa sua participação no atentado com gás venenoso no metrô de Tóquio em março passado.
Eles disseram ter agido sob ordens de Shoko Asahara, guru da seita, segundo noticiou a imprensa japonesa ontem.
Os depoimentos, não-confirmados pelas autoridades policiais que investigam o caso, estabelecem diretamente a responsabilidade de Asahara no atentado, e podem determinar a abertura de um processo judicial contra ele.
Os investigadores agora acumulam provas que podem levar à condenação de Asahara à pena de morte por enforcamento no julgamento marcado para junho.
Nenhum membro da seita comentou as declarações. Asahara mantém-se em silêncio sobre o atentado com gás sarin desde que foi preso na semana passada.
Segundo o "Yomiuri Shinbum", Asahara liderou reuniões para planejar o atentado com o gás com três outros líderes da Aum Shinrikyo, entre eles Hideo Murai, "ministro da Ciência" da seita.
Murai determinou que o químico Seiichi Endo, "ministro da Saúde" da Aum, produzisse o gás para lançar no metrô.
Como o prédio onde funcionava o laboratório da seita, em Kamiku-Isshiki, no sopé do monte Fuji (a cerca de 100 km de Tóquio), estava desativado, ele produziu o gás em seu laboratório pessoal.
A polícia japonesa agora tenta localizar o laboratório em busca de provas.
Os detidos disseram que Kiyohide Hayakawa, 45, apontado como o "número dois" da Aum e chefe da "seção de edificações", ordenou a construção de um prédio em Kamiku-Isshiki para produzir o gás em grandes quantidades.
Hayashi disse que levou o gás venenoso até o metrô.
"Minha consciência me torturou. Hesitei várias vezes antes de perfurar as bolsas (com sarin) com meu guarda-chuva (para dispersar seu conteúdo). Mas não fui capaz de desobedecer as ordens", afirmou o médico.
Depois de ser incorporado ao grupo, Hayashi tratou de membros intoxicados durante a produção do gás e realizou cirurgias estéticas e supressões de marcas digitais de adeptos fugitivos da polícia.
Essas confissões confirmam a produção do sarin pela seita. Entre os documentos da Aum apreendidos pela polícia encontram-se menções à suma importância das armas químicas na Terceira Guerra Mundial, que, segundo o guru Asahara, começará em 1997.
Eles disseram que foram os primeiros a propor ao guru barbado o uso do sarin a fim de obter distinções junto a ele. Depois o teriam produzido sob suas ordens.
Pouco antes do ataque, Asahara distribuiu notificações promovendo os membros da seita que executariam o plano de ataque ao metrô.
Depois da prisão de Asahara, vários líderes da seita manifestaram a intenção de abandoná-la.
Observa-se nas 30 sedes no país debandada de fiéis que pode esvaziar as fileiras dos 10 mil adeptos da seita no Japão.
O "Mainichi Shinbum" publicou que os seguidores da seita detidos declararam à polícia que Asahara, quando soube que o atentado resultou em 12 vítimas fatais e 5.000 intoxicados, disse: "Ótimo. É bom que o espírito deles tenha sido levado pelo mestre".

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