São Paulo, terça-feira, 23 de maio de 1995
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

O estilo Rambo e a polícia

JAMES LOUIS CAVALLARO

O presidente Fernando Henrique Cardoso declarou-se preocupado com os acontecimentos no Rio, dentre os quais o assalto policial à favela Nova Brasília na madrugada do dia 8 de maio de 95.
Considerando-se o clima de terror e violência que se instalou, o dito assalto policial foi recebido com muitos aplausos. Antes de aderir ao aplauso, é preciso pensar na conduta desses policiais e nas consequências que ela pode gerar.
O confronto entre policiais e traficantes apresentou um saldo de 14 mortos, dentre eles um trabalhador. Segundo informações dos principais jornais, somente dois policiais foram feridos, pela explosão de um botijão de gás. Esse saldo de 14 mortos, sem nenhum civil ferido ou policial baleado, deveria nos levar a nos questionar se houve mesmo um tiroteio, já que ``existência de tiroteio" é a versão oficial usada para encobrir todo tipo de massacre.
Segundo a imprensa, as denúncias feitas por moradores da favela Nova Brasília apontam que alguns dos bandidos já haviam se rendido quando os policiais iniciaram a matança.
Os jornais também noticiaram o posicionamento do governador do Rio de Janeiro, Marcello Alencar, que não quer que nenhum dos policiais seja punido nem sequer criticado, pois -conforme disse- foi uma ação policial em favor da política de repressão ao crime.
Pior ainda, justificar violações tão fortes sem se preocupar com as investigações mínimas incentiva os abusos oficiais.
As pessoas que cometem crimes devem ser condenadas e punidas, mas devem poder dispor desse direito. A justiça deve ser feita pelas vias legalmente instituídas. A experiência já demonstrou que as ações armadas da polícia, de caráter desproporcional, geram uma onda de vingança por parte dos bandidos.
Um dia após o incidente em Nova Brasília, outro fato mostrou por que a polícia não deve agir usando o estilo ``Rambo". Segundo a imprensa, policiais da Divisão de Roubos e Furtos de Cargas, em busca de mercadorias roubadas, subiram a favela do Lixão na tarde de 9 de maio e, ao invadirem uma casa, entraram atirando e mataram um menino de sete anos que se preparava para ir à escola.
Dá para entender o aplauso de qualquer ação policial frente a tal índice de marginalidade. Porém, aceitar cegamente a ação policial homicida é um convite aberto para que os elementos corruptos das forças policiais transformem-se em uma gangue.
Os governos estadual e federal devem garantir a segurança de seus cidadãos. Às vezes, isso implica o uso da força. Mas não será através da teoria do mais forte ou violento que o Estado de Direito será alcançado.

Texto Anterior: Praga de ratos destrói lavouras na Paraíba
Próximo Texto: Petista vai para a cúpula da polícia do Rio
Índice


Clique aqui para deixar comentários e sugestões para o ombudsman.


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.