São Paulo, terça-feira, 23 de maio de 1995
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Torre de Babel; Bípede; A lei dentro da lei; Livro didático; Zumbi; Banheiro público; Pesquisa no Brasil

Torre de Babel
``A Folha, de que sou assinante e colaborador, deveria ter mais cuidado na escolha dos jornalistas que envia para cobrir eventos culturais. No caso do debate sobre o tema `Torre de Babel', representou-a para esse fim um bacharelote despreparado, sem a mínima formação em literatura e cultura, Daniel Piza (o mesmo que escreveu uma vez que Jesus Cristo foi `enforcado' no Gólgota e que `No princípio era o verbo', do Evangelho segundo São João, eram as primeiras palavras do `Antigo Testamento', ou seja, da Bíblia hebraica...). Arrogante e ignorante, esse menino, prevalecendo-se do espaço que lhe concedem, em vez de cumprir a missão informativa que lhe cabe em respeito aos leitores, deu-se o direito de deformar tudo o que se passou na noite de 19/5, na sessão promovida pelo `Banco Nacional de Idéias'. A medida de seu desrespeito e de sua desinformação poderá, felizmente, ser avaliada por qualquer um de boa-fé, já que as intervenções foram gravadas e serão publicadas em livro. Dois pontos apenas: o verde jornalista ignora quem seja o professor e teórico da literatura Fredric Jameson, cuja concepção de uma `estética cognitiva terceiro-mundista' foi por mim referida e discutida no evento. Para o leviano Piza, trata-se de um `resenhista' anônimo. Afirma, petulante, que eu deveria ler o crítico Harold Bloom (cuja obra conheci em 1978, quando professor visitante em Yale, e cujo nome fui o primeiro a mencionar no Brasil, em meu livro de 1981, `Deus e o Diabo no Fausto de Goethe', como aliás o reconhece a competente tradutora de Bloom, Monique Balbuena, da Imago). Que as categorias de Bloom não são `textuais', mas de extração `psicanalítica' (`angústia da influência' / `complexo de Édipo' do `efebo' em relação ao `autor forte'), qualquer um que tenha ido à escola, o que não parece ser o forte do nosso `efebo' jornalista, o sabe."
Haroldo de Campos, professor de Comunicação e Semiótica da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (São Paulo, SP)

Bípede
``A presente representa um protesto contra o teor do texto `Um bípede em transição', de Josias de Souza, publicado no dia 1/5. Já não é a primeira vez que esse senhor usa o espaço deste jornal para despejar sua irracionalidade. Até uma pessoa doce, com uma vida marcada por suas atitudes e palavras sempre embasadas em puro amor cristão, como d. Paulo Evaristo Arns, foi alvo de mesquinho e baixo ataque desse indivíduo, que constitui uma vergonha para a imprensa brasileira. Seria bom que esse senhor voltasse aos bancos escolares, a fim de aprender conceitos mínimos de educação, respeito ao próximo, democracia, fidelidade partidária, dignidade, liberdade com responsabilidade."
Rubim Santos Leão de Aquino (Rio de Janeiro, RJ)

A lei dentro da lei
``A Folha de 19/5 traz reportagem sob o título `Secretário de Segurança Pública do Rio defende punir o menor', da posse do novo secretário de Segurança Pública do Estado do Rio de Janeiro. Naquela ocasião, o senhor secretário defendeu mudanças no Estatuto da Criança e do Adolescente, pronunciando-se favorável à diminuição da menoridade para 14 anos. Afirmou ainda que menores de 18 anos devem responder criminalmente por seus atos. O Estatuto da Criança e do Adolescente responsabiliza o adolescente autor de ato infracional estabelecendo deveres sob a forma de medidas socioeducativas. A Fundação Abrinq pelos Direitos da Criança considera a legislação brasileira atual -a Constituição e o Estatuto da Criança e do Adolescente- uma conquista democrática de todos. Cabe ao Estado fazer cumprir a lei, respeitando a lei."
Oded Grajew, diretor-presidente da Fundação Abrinq pelos Direitos da Criança (São Paulo, SP)

Livro didático
``A Abrale (Associação Brasileira dos Autores de Livros Educativos) deseja tornar público seu apoio às medidas recentemente adotadas pelo presidente da FAE (Fundação de Assistência ao Estudante), sr. José Luiz Portela, que estende o programa de distribuição gratuita de livros didáticos, beneficiando agora também os estudantes da 5ª à 8ª séries das escolas da rede pública de todo o Brasil."
Luiz Márcio Pereira Imenes, presidente da Associação Brasileira de Autores de Livros Educativos (São Paulo, SP)

Zumbi
``Antes de mais nada, a liberdade de pesquisa deve ser respeitada. Se o antropólogo Luiz Mott está certo ou não na sua hipótese de que o líder Zumbi dos Palmares era homossexual, é um tema para ser discutido. Outra coisa, no entanto, é bloquear os canais do debate e colocar-se na via única da barbárie. O episódio abre a oportunidade de esclarecer melhor a questão: não se Zumbi era neguinho ou neguinha, mas como estão vivos, aqui e agora, o preconceito e o seu braço direito -a violência."
Narciso Julio Freire Lobo, professor da Universidade do Amazonas (São Paulo, SP)

``Essa discussão serve para colocar em cheque quem é mais discriminado: o homossexual ou o negro? Parabéns, Luiz Mott."
Marcelo Ferreira (Salvador, BA)

``A propósito da matéria `Negros e homossexuais disputam Zumbi' (19/5), cumpre esclarecer que as opiniões e atitudes do antropólogo Luiz Mott não podem ser atribuídas à comunidade homossexual, a qual preferimos chamar de gay e lésbica, nem a seus grupos organizados, pois ambos se caracterizam por grande diversidade de visões e posicionamentos. De qualquer forma, vale salientar que o direito de livre expressão do presidente do Grupo Gay da Bahia precisa ser garantido, válidas ou não suas argumentações em relação à sexualidade de Zumbi dos Palmares."
Míriam Martinho, secretária-geral da Associação Brasileira de Gays, Lésbicas e Travestis (São Paulo, SP)

Banheiro público
``Não podemos confundir direito de cidadania com anarquia, vandalismo e delinquência. Vivemos, em passagem sob viaduto da av. Rubem Berta, uma situação que exige solução definitiva. Crianças cheiram cola, indivíduos consomem e vendem drogas, bebem e mantêm relações sexuais, a calçada virou banheiro público. Apesar de todas as tentativas, dos pedidos de moradores e vereadores, nunca conseguimos retirar aquelas pessoas do local."
João Carlos Capotorto, seguem-se mais 78 assinaturas (São Paulo, SP)

Pesquisa no Brasil
``Parabéns à Folha pelo trabalho do ranking dos pesquisadores do país com maior repercussão internacional entre 81 e 93. Uma das conclusões é a necessidade de um melhor ambiente de estudo e pesquisa nas universidades brasileiras, uma maior valorização profissional dos cientistas, dos jovens cientistas. Para gerar-se conhecimento é preciso de conectividade permanente, infra-estrutura adequada e ambiente motivacional. Chamou-me a atenção a falta, na lista dos 170, de cientistas sociais."
Allen Habert (São Paulo, SP)

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