São Paulo, quarta-feira, 24 de maio de 1995
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Empreiteiro, Motta censura ação de colegas

XICO SÁ
DA REPORTAGEM LOCAL

Erramos: 25/05/95
A dívida do Estado de São Paulo com empreiteiras é de cerca de US$ 3 bilhões, e não de US$ 3 milhões, como afirmava reportagem publicada ontem à pág. 1-11 ( Brasil).
Empreiteiro, Motta censura ação de colegas
Como estrela de uma festa de empreiteiros em São Paulo, na noite de anteontem, o ministro das Comunicações, Sérgio Motta, que também é empreiteiro, acusou o setor da construção de ser um dos responsáveis pela ``dilapidação" do Estado.
Motta, um dos donos da Hidrobrasileira (uma das maiores empresas de projetos de engenharia), falava como homem da construção civil sobre a relação entre o setor e o governo estadual.
``São Paulo é produto de uma ação organizada e desorganizada, eu diria, gulosa, de dilapidação do patrimônio público", disse o ministro. ``Ações organizadas de dilapidação de que todos nós temos participação em algum grau".
Segundo o discurso do ministro, a dilapidação era produto de governos estaduais, que haviam contado com a conivência dos construtores.
O ministro falou para uma platéia de cerca de 500 empreiteiros, no Clube Monte Líbano, onde tomou posse a nova diretoria da Apeop (Associação Paulista de Empresários de Obras Públicas).
Equilíbrio
No duplo papel de autoridade do governo e homem do ramo da construção, Motta equilibrou o seu discurso para agradar ambas as partes.
``Sou sofredor nesse processo", disse, na pele de vítima da falta de pagamento do setor público e diante das queixas dos empreiteiros sobre os juros altos praticados pelo governo federal.
No momento de falar o Sérgio Motta ministro, ele defendeu o presidente Fernando Henrique Cardoso: ``Vivemos a lógica de uma política perversa de juros, mas mais perversa é a lógica da inflação", disse.
Com a sua autocrítica, que repassou para os empreiteiros uma parcela de culpa pela dilapidação do Estado, Motta desagradou à boa parte da platéia.
Depois de algumas doses de uísque, durante o coquetel, alguns construtores diziam que o ministro acabou ajudando o governador Mário Covas com o seu discurso.
Covas, também presente na festa, é cobrado constantemente a pagar uma dívida de cerca de US$ 3 milhões que o Estado deve aos empreiteiros. As palavras de Sérgio Motta, na avaliação de alguns construtores, ajudaram o governador. Acham que Covas vai continuar culpando ``governos anteriores" pela dívida e esquecendo de buscar uma solução para o caso.
Na sua intervenção, o governador paulista, que falou após o ministro, disse que gostaria de resolver o problema, mas não poderia, devido à situação que herdou no Palácio dos Bandeirantes.
``É danada a posição de devedor", filosofou Covas, diante da platéia de credores carentes por uma proposta de pagamento.
Outras vezes
Motta já chegou a ser repreendido pelo presidente Fernando Henrique Cardoso por sua incontinência verbal.
Numa reunião com parlamentares do PMDB, criticou a atuação dos ministros da Educação, Paulo Renato Souza, e da Saúde, Adib Jatene. Na mesma reunião, desqualificou o trabalho do Programa da Comunidade Solidária, ao qual sobraria conversa e faltaria ação: ``Essa masturbação sociológica me irrita", disse então.

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