São Paulo, quarta-feira, 24 de maio de 1995
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Tizuka quer mostrar quem vive nas margens

RICARDO CALIL
ENVIADO ESPECIAL À GUARAPARI (ES)

``Um Grito de Amor", quinto longa-metragem dirigido por Tizuka Yamasaki, que começou a ser rodado anteontem em Guarapari (ES), representa uma bússola para duas gerações sem rumo.
Primeiro, porque retrata e tenta reverter o problema do menor abandonado no Brasil, ``sem demagogia ou apologia da pobreza", segundo o produtor Cacá Diniz.
E também porque reflete o cineasta brasileiro hoje -à margem da produção, longe do público.
Com ``Um Grito de Amor", Tizuka quer afastar a sensação de ser uma ``outsider" -mulher, neta de imigrantes, interiorana (nasceu em Atibaia, SP), cineasta. Ou, como ela mesmo define, ``uma caipira que se meteu com cinema".
Entre os principais nomes envolvidos no projeto, nenhum filma há pelo menos cinco anos.
Tizuka e Diniz realizaram seu último filme, ``Lua de Cristal", com Xuxa, em 1990. Antonio Fagundes, protagonista do elenco adulto, fez seu último longa- ``O Corpo", de José Antonio Garcia, inédito até hoje- em 1989.
Mas ninguém ficou parado.
Tizuka dirigiu para a TV (a minissérie ``Madona de Cedro" e episódios do ``Você Decide", entre outros) e publicidade.
Diniz se considera um ``inadimplente oficial". Depois de um infarto em 1992, -causado, segundo ele, pela quase falência de sua produtora-, alugou seus estúdios para gravações do ``Papa Tudo".
Fagundes, como se sabe, reforçou sua atuação na TV e no teatro. ``Nós, atores e diretores, também somos responsáveis por essa bruma que envolveu o cinema nacional. Antes de acabarem com a Embrafilme, nós acabamos com o público", afirma o ator.
Para Tizuka, parece premeditado falar em retomada do cinema nacional. ``O efeito `Carlota Joaquina' não é suficiente para sair comemorando. Ainda hoje, parar cinco meses para tocar um filme é suicídio profissional".
Mas ela vê em ``Um Grito de Amor" uma possibilidade de redescobrir um grande público.
A cineasta tem o projeto de um filme sobre a adolescência há oito anos, por uma cobrança dos filhos.
Como mãe e ``outsider", ela se considera ``íntima" dos personagens, principalmente dos protagonistas Bel (Luciana Rigueira) e Wan (Vitor Hugo).
Adotada por um ex-policial (Fagundes) envolvido em negócios ilícitos, Bel, 16, é sequestrada por Wan durante um assalto e passa a desconfiar que ele é seu irmão, do qual foi separada dez anos antes.
Para concretizar o projeto, a cineasta se segurou à oportunidade oferecida pelo Pólo de Cinema e Vídeo do Espírito Santo. Do orçamento previsto de R$ 1,5 milhão, o pólo entrou com R$ 500 mil.
O filme deve estar finalizado em setembro para ser lançado em dezembro ou março de 96. Diniz pretende levá-lo ao Festival de Berlim, em fevereiro do ano que vem.
O trabalho representa uma série de reencontros para Tizuka. Além do mais evidente, com o próprio cinema, há também o reencontro com Fagundes (que fez ``Gaijin"), com Diniz e com sua irmã Yurika (produtor e diretora de arte, respectivamente, dos seus filmes).
Agora, só falta o público.

O jornalista RICARDO CALIL viajou a convite da produção do filme

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