São Paulo, quarta-feira, 24 de maio de 1995
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Violinista russo diz que adora Villa-Lobos

WILLIAM LI
ESPECIAL PARA A FOLHA

Concerto: Boris Belkin e The Master Chamber Orchestra
Onde: A Hebraica, Arthur Rubinstein (r. Hungria, 1.000, tel. 818-8888)
Quando: Hoje, às 21h
Quanto: R$ 25 e R$ 20 (sócios)

A série de concertos Hebraica/Banco de Boston apresenta o violinista russo Boris Belkin, acompanhado da recém-formada ``The Master Chamber Orchestra", que reúne músicos das melhores orquestras do mundo. A regência será de Mark Blekh e o programa inclui Bach, Mozart, Vivaldi e Tchaikowsky.
``The Master Chamber Orchestra" congrega 19 músicos da Filarmônica de Israel, do Mozarteum de Salzburgo, da Filarmônica de São Peterburgo, da Orquestra da Câmara de Moscou e da Royal Flemish Orchestra.
Eles se reúnem periodicamente na Bélgica para realizar seus ensaios. Foi formada por Mark Blekh há apenas seis meses. Seu repertório compreende desde o barroco até a música deste século.
Boris Belkin, que já veio várias vezes ao Brasil, foi o vencedor do ``Concurso Nacional Soviético para Violino" em 1973. No ano seguinte, iniciou uma intensa carreira musical, tendo atuado com as melhores orquestras do mundo e gravado inúmeros CDs. Em entrevista concedida à Folha, ele falou sobre sua carreira, a escola soviética de ensino musical e de suas preferências.
Belkin começou falando a respeito da escola soviética de interpretação musical. ``O treinamento que tínhamos era fantástico para todos os instrumentos. Treinávamos como os atletas. Mas havia um grande problema cultural. Como a União Soviética era totalmente fechada em relação à cultura ocidental, não tínhamos a menor idéia de como Beethoven ou Mozart eram tocados em Viena, Nova York ou Londres."
A respeito do ensino na ex-União Soviética, Belkin faz suas ressalvas. ``O ensino se centrava na técnica. Portanto há muitos e bons instrumentistas, mas poucos músicos", declara ele.
Quanto ao repertório, Belkin toca desde Bach até os autores contemporâneos, mas tem uma predileção por Schubert e Paganini. Para ele, o violino é um instrumento cantante, enquanto o piano é percussivo e mecânico.
Quanto à sua concepção de música, ele cita Beethoven, que havia dito que a música era a mais alta das revelações. E também salienta sua ligação com a matemática, que vem desde os pitagóricos. Quanto à música brasileira, Belkin declara que ``adora Villa-Lobos" e diz que sempre que vem ao Brasil vai ouvir samba no Rio de Janeiro.
Belkin interpretará o sublime ``Concerto para Violino e Orquestra em lá maior KV 219", de Mozart. Mozart compôs todos os seus cinco concertos para violino e orquestra em 1775, para serem executados pelo violinista Brunetti, spalla da orquestra do Arcebispo de Salzburgo. Na época, Mozart tinha apenas 19 anos.
O ``Concerto nº 5" revela, no entanto, a maestria do gênio por sua complexidade e originalidade. Na habitual velocidade estonteante de Mozart, ele foi composto em apenas cinco semanas e sua estrutura harmônica e sobretudo a melódica são admiráveis.
No terceiro movimento, por exemplo, ``Tempo di Menuetto", Mozart faz irromper do minueto um inusitado episódio ``alla turca" em lá menor que lembra a abertura da ópera ``O Rapto no Serralho". Enfim, trata-se de uma peça básica no repertório de um violinista e um de seus grandes desafios, pois aí Mozart faz o violino cantar de maneira transparente e límpida, de forma que qualquer falha é imediatamente percebida.

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