São Paulo, quarta-feira, 24 de maio de 1995 |
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Exposição relembra o concretismo de Sacilotto
DANIEL PIZA
Artista: Luis Sacilotto Onde: Sylvio Nery da Fonseca Escritório de Arte (r. Oscar Freire, 164, tel. 011/±64-3086, Jardins, zona sul) Quando: abertura hoje, às 20h; até 24 de junho Visitação: de segunda a sexta, das 10h às 19h; sábado, das 10h às 13h Preços: de US$ 6.000 a US$ 14 mil Parte representativa do que se fez em pesquisa visual no Brasil pode ser vista a partir de hoje, no escritório de Silvio Nery da Fonseca, em 28 obras do artista concretista Luis Sacilotto, 71. Não é a retrospectiva que ele merece, mas há obras de 1950 a 1984, pinturas e peças, e dá para ver por que Sacilotto pertence ao seleto grupo da arte geométrica brasileira, com Geraldo de Barros, Sérgio de Camargo, Lygia Clark, Franz Weissmann, Mauricio Nogueira Lima e Antonio Lizárraga. Esses artistas levaram a pesquisa visual no Brasil nos anos 50 e 60 a um grau de sofisticação que só a Itália teve semelhante. Sacilotto foi um dos que assinaram o manifesto que fundou o Grupo Ruptura, em 1952, ao lado de Waldemar Cordeiro, Hermelindo Fiaminghi e outros. A idéia era fazer uma arte em que o jogo de formas geométricas provoca o sentido, acostumado a buscar figuras definitivas. Cada obra pode ser vista, no sentido físico, de mais de uma maneira. O ponto de partida é a Gestalt, ou teoria da forma -segundo a qual uma estrutura é mais que a soma de suas partes e, portanto, depende de como é olhada (como aquela figura clássica que, numa vez, parece uma taça e, em outra, parecem dois perfis opostos). ``Gosto de quando a pessoa vem olhar o quadro, vê uma coisa e, de repente, vê outra", diz Sacilotto. ``É uma provocação." Mas a arte de Sacilotto supera o truque visual, a brincadeira positivo-negativo. Como diz um texto de 1980 do poeta Décio Pignatari, ``ele propõe a audácia de reaprender a ver, negando-se a transformar o olho em carimbo". No fim dos anos 50, isso é atingido pelas peças que não são ``esculturas", não são objetos pesados erguendo-se do pedestal, mas recortes do espaço, que usam os espaços vazados como volumes. Outro ponto alto ocorre no início dos anos 80, quando Sacilotto alinha flâmulas por toda a tela, variando a posição delas em 15 graus na vertical e na horizontal. O resultado é uma instabilidade criada com máxima precisão e a sugestão de volume nas figuras. As melhores telas são como essas: têm movimento nas três dimensões; vão além de um pisca-pisca. O que se conclui da exposição é que o concretismo fica como fase importante porque ensinou que ver, necessariamente, inclui rever. Texto Anterior: XPTO protagoniza superprodução Próximo Texto: Violinista russo diz que adora Villa-Lobos Índice |
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