São Paulo, quarta-feira, 24 de maio de 1995
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EUA inventam controle médico à distância

MARINA MORAES
ESPECIAL PARA A FOLHA, DE NOVA YORK

Todo mundo já passou um dia pela experiência de não tomar remédio receitado na hora certa. Na maioria das vezes, nada grave. Mas há gente que depende de drogas para viver: pacientes de transplantes e assim por diante.
Foi pensando neles que uma pequena empresa da Califórnia inventou um sistema que é tiro e queda. Batizado de ``SmartCap", ou tampa inteligente, permite que um médico ou enfermeira monitore, à distância e eletronicamente, se você toma remédio direitinho.
A engenhoca permite o controle do uso de quatro drogas diferentes, cada uma acondicionada numa cápsula especial. Quando chega a hora do remédio, o aparelho emite um som para chamar a atenção do paciente. Um chip de computador na tampa das cápsulas registra quando e quantas vezes cada uma delas foi aberta durante o dia.
À noite, o aparelho (que inclui um modem) transmite, pelo telefone, a informação coletada para o médico ou hospital do paciente. Se houver algum problema, no dia seguinte vem o puxão de orelhas.
Num primeiro momento, a idéia pode até parecer idiota. Afinal, no caso de vida ou morte, quem é que não vai seguir as ordens do médico? O problema é que nos Estados Unidos há muita gente de idade que vive sozinha, longe da família.
Para algumas drogas mais do que outras, o consumo na hora certa pode ser muito importante para o resultado final do tratamento. Médicos estimam que 5% das internações em hospitais dos EUA seriam evitadas se receitas fossem seguidas ao pé da letra.
Pena que esse sistema colabore para afastar o paciente do contato humano. É um indício de que o médico da família está em extinção. A telemedicina vai enterrá-lo.
Vai permitir, por exemplo, que os tratamentos sejam feitos remotamente, por telefone ou computador. Tem lado bom e lado ruim.
A grande vantagem é que é possível diminuir a distância entre os especialistas e quem precisa deles. O Massachussets General Hospital arquiva os raios X de seus pacientes em vídeo de alta resolução e transmite dados em minutos.
Na Geórgia (EUA), até o final deste ano, 50 clínicas de pequenas cidades do interior estarão conectadas aos hospitais mais importantes de Atlanta para videoconsultas. Câmeras de televisão vão permitir que o médico não apenas veja o paciente à distância mas também o examine com ajuda de lentes.
O passo seguinte será conectar no sistema câmeras minúsculas que permitam ao médico fazer uma endoscopia ou ver o que tem de errado com o ouvido do cidadão. Tudo isso será realidade em questão de meses, mas há gente ocupada em imaginar a telemedicina daqui a alguns anos.
Engenheiros do Massachussets Institute of Technology trabalham num braço robótico que reproduziria exatamente os movimentos de um cirurgião, só que usando instrumentos minúsculos capazes de fazer uma incisão milimétrica.
Em tese, o objetivo de tudo isso é melhorar os tratamentos e facilitar a vida do paciente. Um morador de Illinois não precisaria mais viajar centenas de quilômetros para ser atendido em Nova York.
Difícil é achar o equilíbrio para não transformar de vez a medicina em uma experiência tão fria quanto um chip. Como dizia vovó, não há nada que um ombro amigo não ajude a curar.

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