São Paulo, quarta-feira, 24 de maio de 1995
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Concessão de visto abre crise EUA-China

JAIME SPITZCOVSKY
DE PEQUIM

A China exigiu ontem que os EUA revejam sua decisão de conceder visto de entrada ao presidente de Taiwan, Lee Teng-Hui.
Em seu protesto, o governo chinês disse que a concessão do visto provocará "profundos danos" nas relações bilaterais entre Pequim e Washington.
O governo comunista da China classifica Taiwan como uma "província rebelde".
Em 1949, os comunistas liderados por Mao Tse-tung venceram a guerra civil e obrigaram os nacionalistas, liderados por Chiang Kai-shek, a se refugiarem em Taiwan, ilha a leste da China.
Os governantes comunistas conduzem sua diplomacia sob o lema "uma China e Taiwan como parte da China".
Pequim admite que outros países mantenham apenas relações "não-oficiais" com Taiwan. Não quer o reconhecimento diplomático da "ilha rebelde".
Ao conceder o visto ao presidente de Taiwan, Washington se move na direção de criar "duas Chinas" ou "uma China e Taiwan", diz o governo chinês.
Desde 1979, nenhum presidente de Taiwan visitou oficialmente os EUA, que aceitaram a política imposta por Pequim.
A China afirma que a Casa Branca, ao conceder o visto, fere acordos com Pequim que prevêem apenas relações "culturais, comerciais e não-oficiais" entre os Estados Unidos e Taiwan.
O governo norte-americano argumenta que a visita de Lee Teng-Hui se reveste de "caráter particular", tentando evitar a conotação política do evento.
O presidente de Taiwan vai participar entre os dias 8 e 10 de junho de reunião de ex-alunos da Universidade de Cornell, na cidade de Ithaca (Estado de Nova York, nordeste dos EUA).
A China, em sua nota de protesto, critica a Casa Branca por "ceder a pressões do Congresso", que é dominado pela oposição republicana. Os republicanos, que nos anos 70 conduziram a aproximação com Pequim, hoje pressionam pelo apoio a Taiwan.
A China não especificou quais seriam os "severos danos" que a medida norte-americana pode trazer às relações bilaterais.
A reação deve compreender medidas de curto alcance, mas acompanhadas por dura retórica.
Pequim tem pouco espaço de manobra para retaliar porque precisa dos investimentos de Taiwan e dos Estados Unidos para financiar as reformas pró-capitalismo em sua economia.
O governo comunista se esforça para atrair investimento e turistas de Taiwan e promove diálogo entre entidades "não-governamentais" dos dois países.
O incidente com os Estados Unidos pode desacelerar os contatos entre China e Taiwan.
A nota de protesto, marcada por forte tom de indignação, revela também a frustração do presidente chinês, Jiang Zemin. Ele já deixou claro que uma de suas prioridades é a "recuperação de Taiwan".
Zemin avalia que esse objetivo fica mais distante quando o presidente Lee Teng-Hui consegue driblar o isolamento imposto por Pequim para viajar aos EUA.

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