São Paulo, quarta-feira, 24 de maio de 1995
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O espírito de Thatcher

A greve dos petroleiros, por sua longa duração e pelos efeitos perversos que já causa sobre a população e a produção, evoca a célebre greve dos mineiros do Reino Unido no início da gestão da ex-primeira-ministra Margaret Thatcher.
A então líder de governo britânica foi absolutamente intransigente e não cedeu. Com essa atitude, Thatcher quebrou a espinha dorsal do sindicalismo britânico, feito de que se orgulha até hoje, conforme deixou claro na conversa que teve com o presidente Fernando Henrique Cardoso em Londres.
O problema é que as diferenças entre o Reino Unido de Thatcher e o Brasil de FHC são tão enormes que o exemplo não serve.
Começa pelo fato de que os sindicatos britânicos eram (e são, ainda que em menor escala) a espinha dorsal do Partido Trabalhista, por sua vez a única real alternativa de poder no país. Portanto, ao dobrar os sindicatos, Thatcher estava quebrando seu adversário político.
No Brasil, a ligação entre o PT e movimentos sindicais também é notória, mas, diferentemente do Reino Unido, o Partido dos Trabalhadores não é nem remotamente a única alternativa real de poder. Mesmo que uma hipotética destruição do sindicalismo quebrasse também o PT, isso aparentemente não interessaria ao presidente Fernando Henrique, que acabaria tornando-se refém do empresariado e de partidos mais à direita.
Por fim, cabe indagar se, ao quebrar a espinha dorsal do sindicalismo, o Reino Unido como um todo beneficiou-se tanto quanto Thatcher o fez, no plano eleitoral. A resposta é nitidamente não. A Grã-Bretanha luta hoje com a Itália para ser apenas a quinta potência econômica mundial, atrás de EUA, Japão, Alemanha e França.
E distancia-se mais e mais de uma Alemanha que escolheu exatamente o caminho inverso: transformou os sindicatos em virtuais parceiros do governo, seja com o gabinete ocupado pelos democratas-cristãos, como é o caso desde 1982, seja pelos sociais-democratas.
Apesar da enorme diferença de nível entre sindicatos brasileiros e alemães, a parceria governo/sindicatos parece mais produtiva do que o confronto aberto.

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