São Paulo, quinta-feira, 25 de maio de 1995 |
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Psicanálise e religião celebram o desejo
ELVIS CESAR BONASSA
``A psicanálise é responsável também pela culpa das pessoas. Há leituras de Lacan e Freud que colocam a culpa numa posição nuclear", afirmou a psicanalista, quando se debatia o papel da Igreja na formação desse sentimento. ``Há religiões que aterrorizam a consciência. Precisam do pecado. Se o pecado se dilui, elas perdem sua função", disse o teólogo. Boff não deixou Miriam monopolizar as citações dos teóricos da psicanálise. Também passeou por Freud e Lacan. ``Freud era muito científico, cuidadoso. Ele afirmou que a morte pode ser o passo necessário para uma unidade maior", disse o teólogo, dando a referência bibliográfica. A conversa teve a mediação de Mario Sergio Cortella, professor da PUC, e Caio Túlio Costa, diretor de revistas da Folha. Com falas sem tempo marcado, o debate permitiu uma conversa solta, mas dificultou aprofundamentos. Nem era esse o objetivo. Em vez de discussões carrancudas, o público pôde assistir a duas horas de passeio intelectual, com momentos de bom humor. Foi levantado, por exemplo, o problema do consumismo, que reduziria todos os quereres ao mesmo querer: produtos importados, carros, aparelhos eletrônicos. Para Boff, um dos criadores da Teologia da Libertação -uma teologia com preocupações sociais-, é preciso pensar em um desejo que não se dê às custas da exclusão. ``A desejo da burguesia brasileira é um país moderno, cheio de carros importados, uísque, televisão, mas isso ao custo de uma enorme exclusão", afirmou. Mais à vontade do que a psicanalista, Boff entrou por interpretações apaixonadas da religião. ``Jesus ao contrário de todos os ascetas que transformavam vinho em água, transformou água em vinho, para que a festa nunca acabasse." Ao final do debate, o professor Cortella provocou: à semelhança de um condenado à morte, qual seria o último desejo de cada um? Miriam se esquivou. ``Eu teria muitos desejos." Boff retomou a psicanálise e, mais uma vez, citou Freud. ``Meu desejo é ver Deus. E, como dizia Freud, se eu morrer e chegar à presença de Deus, eu terei muito mais coisas a perguntar para ele do que ele para mim." O poeta Haroldo de Campos e o físico Rogério Cerqueira Leite discutem ``O Acaso", no mês que vem, dando continuidade ao ciclo. LEIA MAIS sobre Leonardo Boff no caderno Brasil Texto Anterior: Guerreiro combate a perversidade Próximo Texto: Personalidades elogiam Michael Jackson Índice |
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