São Paulo, quinta-feira, 25 de maio de 1995
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Ocupação de refinarias

A intervenção militar na greve dos petroleiros é uma medida dura. Do ponto de vista estritamente técnico, o governo está correto. A categoria ignorou a decisão da Justiça que determinou a volta ao trabalho.
Sentenças judiciárias têm de ser acatadas, sob pena de se colocar em xeque a própria democracia. Se qualquer pessoa se arrogasse o direito de cumprir apenas as decisões judiciárias que considerasse justas, a vida em sociedade seria inviável.
Do ponto de vista político, porém, há dúvidas quanto ao momento que o Planalto escolheu para agir com vigor. Se tivesse ordenado a ocupação das refinarias logo depois que os petroleiros decidiram descumprir a decisão do TST, teria atuado de forma coerente.
Mas, ao esperar que a situação chegasse perto do desabastecimento para só então agir, sugere que não só os petroleiros, mas também o governo vêm tratando a greve politicamente.
A paralisação, como era de se esperar, colocou a população contra os petroleiros, como revelou pesquisa publicada ontem nesta Folha. Assim, o Planalto parece ter-se sentido forte o bastante para radicalizar sua posição. Se o governo de fato conseguir derrotar de forma clara o movimento dos petroleiros, poderá obter duas vantagens.
De um lado, ao vencer uma das categorias mais organizadas do sindicalismo brasileiro, criaria dificuldades para que outros setores -principalmente do serviço público e de estatais- usem a greve como instrumento para reivindicações, principalmente políticas. De outra parte, ao desgastar a imagem dos petroleiros junto à população, o Planalto poderia diminuir as resistências de parlamentares às reformas constitucionais, em especial à quebra dos monopólios estatais.
Nesse infindável jogo de interesses, quem sai perdendo, como sempre, é a população, que, de um lado, é vítima da chantagem dos petroleiros e, de outro, é usada pelo governo como um simples peão no tabuleiro das intrigas políticas.
Toda a novela da greve dos petroleiros, cujo fim ainda é imprevisível, mostra uma profunda falta de maturidade tanto da parte das lideranças sindicais quanto do governo. Em vez de sentar-se à mesa em momento oportuno para debater com seriedade questões localizadas, com o que ganhariam o governo, os sindicatos e, portanto, o país, preferem transformar uma questão relativamente restrita -o salário dos petroleiros- num foco de crise nacional.

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