São Paulo, sexta-feira, 26 de maio de 1995
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Espírito público

NELSON DE SÁ
DA REPORTAGEM LOCAL

- O presidente comemora.
A manchete da CBN selou ou pareceu selar o fim da greve. Nos números do porta-voz do presidente, das 11 refinarias, 10 estão em operação.
Daí Fernando Henrique sair comemorando e dizendo que que a greve já está em ``claro declínio", indicação de que os petroleiros respondem dentro do ``espírito público".
Pelo que se viu ontem, se eles estão voltando, não é por espírito público. O governo, como se diz, começou a jogar pesado. Algumas frases tiradas da cobertura de televisão, na Globo, SBT, Manchete:
- Contracheque de grevista vem com salário zero.
- Era dia de pagamento, mas os salários dos grevistas não estavam nas contas.
- A Petrobrás convoca os trabalhadores a retornarem às refinarias. Os que não voltarem ao trabalho serão considerados ausentes, o que vai caracterizar abandono de emprego.
- Dos 26 convocados em Paulínia, apenas 6 voltaram. Os outros devem ser demitidos por justa causa.
- A Petrobrás começou a chamar antigos petroleiros, aposentados e ex-funcionários, para as refinarias.
- Em São José dos Campos a refinaria espera resposta de cem aposentados que foram convocados para substituir os petroleiros em greve.
- Em Curitiba, funcionários já estão em treinamento para operar as máquinas e reativar a produção da refinaria.
Com tal bombardeio, não é necessário ``espírito público" para pensar duas vezes.
Mas não faltam os focos de resistência. O maior deles vem da última refinaria parada, ou ainda, ocupada, tomada.
O presidente do sindicato de Cubatão, que costuma dizer que o PT é conservador para o seu gosto, apareceu inúmeras vezes na televisão, sempre com um sorriso nos lábios.
Ele afirmou que a falta de pagamento ``acaba fazendo que os trabalhadores fiquem mais revoltados", no SBT, o que ``vai mobilizar muito mais", na Bandeirantes.
Na Cultura e Rede Brasil, avisou o governo contra uma invasão da refinaria, pois os ``nervos estão à flor da pele". E tem mais, ``ninguém invade a casa do outro em paz".
Ele ocupa há tanto tempo a refinaria que já pensa que é sua, dele. E não da União.

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