São Paulo, sexta-feira, 26 de maio de 1995
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Trivial invariado

JANIO DE FREITAS

Caso a estatal Escelsa, a empresa de energia elétrica que serve ao Espírito Santo, seja privatizada pelos R$ 578 milhões em que o governo federal a avaliou, como acaba de anunciar, teremos a medida real do que é o Brasil da atual política econômico-financeira.
Os R$ 578 milhões serão consumidos em cinco dias e meio só com os juros que o governo está pagando aos que especulam com títulos federais.
Se contratasse uma empreiteira para montar outra Escelsa igual à existente, o governo despenderia bilhões e anos. Mas faz a troca por cinco dias e meio de juros. E a isto chamam apenas de privatização.
Cifrões no ar
Todo pretexto serve quando se trata de fazer negócio com o governo. As pedradas no ônibus da comitiva presidencial, na Paraíba, estão servindo para transformar a alegada insegurança em tentativa de venda de um avião ultramoderno para a Presidência, igual às mais recentes aquisições das grandes linhas internacionais.
Mais fascinado pela pompa do que qualquer noivinha, Fernando Henrique já não se satisfaz com os salamaleques brasilienses. China, Alemanha, Bélgica, Malásia, três países latino-americanos são alguns dos que constam de suas intenções viajeiras agendadas ainda para este ano. Nem assim se justifica a posse do atual Boeing 707 para viagens internacionais, quanto mais a compra de um novo gigante transoceânico. A não ser que seja só para agradar os interessados no negócio, e aí não adianta invocar o bom senso.
A doença da saúde
É simples, mas definitivo, o argumento do ministro Adib Jatene em defesa do IPMF como contribuição de emergência para a saúde pública, necessitada de urgentes R$ 6 bilhões que o ministro do Planejamento, José Serra, acha incompatíveis com a política do governo. E são, mesmo. Afinal de contas, seriam destinados ao povo.
Diz Jatene aos que lhe sugerem, em vez do IPMF ou similar, combater as fraudes que desviam fortunas da saúde: ``Pagando aos médicos, nos convênios, R$ 2 por consulta e R$ 4 por anestesia, e não há dinheiro para ir além disso, mais se estimulam as fraudes dos donos de hospital do que se pode combatê-las".
A este argumento, nenhum dos parlamentares contrários à contribuição de emergência (ou, dito de outro modo, favoráveis aos bancos) conseguiu, até agora, opor contra-argumento de maior efeito.
Telecomunicação
A operação realizada na baía de Guanabara pela Marinha, Receita Federal e Polícia Federal foi, enfim, a primeira contribuição do prometido apoio de Fernando Henrique contra a criminalidade no Rio.
O principal aspecto da contribuição foi o seu caráter neoliberalizante: de véspera, foi neoliberada a informação de que ontem seriam vasculhados todos os contêineres desembarcados no Rio, enquanto a Marinha estaria patrulhando a baía à caça de contrabandistas de armas.
Mas o que importa é o efeito fotográfico e televisivo. E este já estava previamente garantido.

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