São Paulo, sexta-feira, 26 de maio de 1995 |
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Frio em SP leva ``elite" da rua a abrigo
ANDRÉ LOZANO
Segundo a diretora da Cetren, órgão vinculado à Secretaria Estadual da Família, Criança e Bem-Estar Social, Dolores Aparecida da Silva Novaes, neste período, cerca de 80% dos usuários do abrigo são pessoas que têm ocupação de baixa remuneração ou ficaram desempregadas a pouco tempo. ``O mendigo mesmo, aquele que dorme enrolado em cobertor na rua, não vem espontaneamente para cá. Quem vem é a elite do pessoal de rua", disse Novaes. Anteontem à noite, a Folha acompanhou, durante quatro horas, a rotina dos usuários da Cetren. Para muitos, a noite no albergue público se torna a única opção quando se acaba dinheiro. ``Hoje (anteontem) não arrumei trabalho, por isso não consegui juntar os R$ 5 para pagar o quarto em alguma pensão no centro. O jeito vai ser dormir nisso aqui mesmo (Cetren)", disse Wagner Roque, 22, que trabalha eventualmente como carregador de carga de caminhão. Todas as pessoas que entram na Cetren são encaminhadas para o banho, que tomam se quiserem. Depois tomam uma sopa e vão para os alojamentos. Os usuários procuram manter uma ``hierarquia" dentro do órgão, baseada no critério: higiene pessoal. ``Não gostamos de ficar muito em contato com o pessoal do térreo porque muitos deles não tomam banho", disse Rubens Ribeiro da Silva, 39, que está abrigado no primeiro andar do prédio da Cetren, ocupado por pessoas que estão aguardando encaminhamento ao trabalho ou em tratamento médico. O térreo é ocupado pelas pessoas que pernoitam no órgão. Lá se concentra a maior parte dos mendigos. ``Aqui existem três castas instituídas pelos próprios usuários. No topo está o pessoal que tem hábitos de higiene rotineiros. Em seguida vem aqueles que moram eventualmente na rua, pois estão desempregados e quando podem fazem a higienização pessoal. Por último, os mendigos, que não se lavam mesmo", disse a diretora da Cetren. Na Cetren aparecem também aquelas pessoas que nunca frequentaram um albergue público e que foram parar lá por algum incidente. Foi o que aconteceu esta semana com o funcionário público de Curitiba Alexandre Guebur, 29. Ele viajou de Curitiba a São Paulo, na última terça-feira, para ir ao velório da mãe. No ônibus roubaram sua carteira e ele a mulher ficaram sem dinheiro. ``Fomos obrigados a dormir aqui porque não tínhamos como pagar um hotel e nem comprar passagem de volta. Estamos aguardando passagem da Cetren", contou Guebur. As secretarias municipal e estadual do Bem-Estar Social iniciam no próximo dia 1º a Operação Inverno - recolhimento de indigentes. Informações sobre mendigos poderão ser dadas pelo tel. 199. Texto Anterior: Polícia reconstitui crime em Rio Preto Próximo Texto: Custo de preso sobe para 5,2 salários mínimos Índice |
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