São Paulo, sexta-feira, 26 de maio de 1995 |
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Deserto é a parte forte de `A Investigação'
INÁCIO ARAUJO
Direção: Damiano Damiani Elenco: Keith Carradine, Harvey Keitel, Phylis Logan Onde: a partir de hoje no cine Belas Artes/Sala Aleijadinho Vendo o título ``A Investigação" assim a frio, a primeira idéia é que Damiano Damiani volta ao filme policial de contestação que marcou boa parte de sua carreira (como ``Confissões de um Comissário de Polícia", de 1970). É ignorar que Damiani sempre está onde a moda está. Nunca fundou um gênero, mas deixou sua marca pessoal em gêneros tão distantes quanto o drama intimista e o ``western spaghetti". Como a moda agora não está em parte alguma, no cinema italiano, é justo que Damiani recorra direto a Cristo. Embora não entre em cena, ele é o objeto da busca que Tulio Valerio Tauro (Carradine), enviado do imperador romano Tibério, vai executar na Palestina. Tauro quer resolver, para Tibério, o mistério do desaparecimento do corpo de Cristo. Onde está (se é que está)? Que tipo de farsa estariam aprontando os judeus com essa história? Tauro encontra ali o governador Pôncio Pilatos (Harvey Keitel), disposto a novamente lavar as mãos ou, pior, varrer o problema para debaixo do primeiro tapete que encontrar. Tauro tem outra disposição, o que o leva a passar em revista os vários mistérios envolvendo a vida e a morte de Cristo. Não estamos longe de uma variante mística dos policiais de contestação feitos na Itália nos anos 60/70: uma investigação que esbarra, a cada vez, em dificuldades incontornáveis e leva o próprio investigador a terrenos desconhecidos. Uma idéia interessante, que promove uma mistura provocante dos antigos filmes mitológicos italianos com as superproduções americanas dos anos 50/60. Agora, porém, o sentido é outro: trata-se de mostrar a necessidade e o perigo de conhecer o outro. Embora crie um clima interessantíssimo, o filme parece feito com certa falta de ânimo. O caráter de Tauro, que é o centro de tudo, é desenvolvido meio no tapa e é atrapalhado por uns desnecessários flertes com Claudia, a mulher de Pilatos. Se a isso se acrescentar a detestável dublagem italiana (os primeiros planos são todos filmados em inglês), a frustração é inevitável. Qause faz esquecer as virtudes do filme e a beleza da última meia hora, quando a ação se transfere para o deserto. (IA Texto Anterior: Ciclo traz obras-primas sobre a cidade de Paris Próximo Texto: Martin Landau vive segunda ascensão Índice |
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