São Paulo, sexta-feira, 26 de maio de 1995
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Martin Landau vive segunda ascensão

AMIR LABAKI
ENVIADO ESPECIAL A CANNES

Martin Landau teve que esperar a maturidade para tornar-se um verdadeiro astro. Depois de duas indicações, por seus desempenhos em "Tucker", de Francis Ford Coppola, e "Crimes e Pecados", de Woody Allen, seu Oscar como ator coadjuvante afinal veio pela interpretação de Bela Lugosi em "Ed Wood".
"Tive a chance de renascer que ele não teve", disse ontem em Cannes à Folha um alegre e falante Landau. Não há exagero.
Landau teve várias vidas. Começou como ilustrador e autor de histórias em quadrinhos no "New York Daily News". Aos vinte e poucos anos, decidiu-se pelo teatro e cursou o Actor's Studio", de Lee Strasberg e Elia Kazan.
O sucesso nos palcos levou à nascente TV dos anos 50, onde se tornou intérprete cativo de séries como "The Philco Playhouse" e "Kraft Theatre". Seus primeiros papéis no cinema foram os de vilão homossexual de "Intriga Internacional", de Hitchcock, e uma ponta em ``Cleopatra"de Joseph Manckiewicz.
O atraso nas filmagens da superprodução roubaram-lhe a chance de contracenar com Marcelo Mastroianni em "Oito e Meio", de Fellini. Quando Mastroianni diz a Cláudia Cardinale: "Gostaria que você estivesse em meu filme, mas como seu parceiro não estava livre, não tenho trabalho para você", é a Landau que se refere.
Nos anos 70, Landau parecia ter chegado ao fim de sua carreira no cinema e condenado às telesséries como "Missão Impossível". Coppola dá-lhe um decisivo empurrão escalando-o para "Tucker". Tem início a segunda ascensão de Martin Landau, que o conduziu ao Oscar e agora a Cannes. O ator falou ontem à Folha. Leia abaixo uma síntese do encontro.

Folha - É verdade que o senhor considerou a crítica muito responsável por seu Oscar?
Martin Landau - Sim. Acho que vários jornalistas durante os anos apoiaram a minha carreira. Entenderam o que faço.
Folha - Como você foi escolhido para viver Lugosi?
Landau - Tim Burton, que não me conhecia, me telefonou e disse: "Você é a primeira e única escolha para este papel. Se você não fizer o filme, eu também não o farei". Foi muito honroso mas também uma espécie de chantagem (risos). Lugosi era um personagem complicadíssimo. No fim da vida, era alcoólatra e viciado em morfina e tinha que continuar sendo Bela Lugosi aos 74 anos. Acho que fui escolhido pois entendo muito bem o que é ter sucesso e depois fracasso.
Folha - O senhor conheceu Lugosi pessoalmente?
Landau - Não, quando cheguei a Hollywood ele já tinha morrido. Para fazê-lo, assisti cerca de 30 de seus filmes, incluído claro todos que fez com Ed Wood. Vi até "Bela Lugosi Encontra o Gorila do Brooklyn", em que contracenava com um sósia de Jerry Lewis.Acredite: os filmes de Ed Wood eram "E O Vento Levou" perto daquilo (risos). Mesmo assim, Lugosi está lá com muita dignidade.
Folha - Como o senhor conseguiu imitar o sotaque húngaro?
Landau - Ouvi fitas faladas em húngaro, noite e dia. Depois de mais de trinta anos no EUA, Lugosi ainda falava um inglês muito ruim. Nunca conseguiu resolver o problema dos "w". "Beware" (tenha cuidado) soava sempre como "be vare". O maior cumprimento que recebi foi diretor Peter Medak. Ele disse: "É incrível seu sotaque. Você falava o inglês com sotaque húngaro de quem tenta falar sem sotaque".
Folha - Depois de Lugosi, o que virá?
Landau - Serei Gepeto numa nova versão de "Pinóquio" que vai ser rodada na Inglaterra, com muitos efeitos especiais. Coppola ia dirigi-lo, mas não vai mais. O diretor será Stephen Barun. Terei que contracenar com uma marionete. Acho que não terei grandes problemas. Já enfrentei antes atores de madeira que eram de carne e osso (risos).

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