São Paulo, sexta-feira, 26 de maio de 1995
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Japão e Brasil, saquê e quimono

JOSÉ SARNEY

As nossas relações com o Japão caíram a um nível de amor velho. Não se vêem, não se visitam, só telefonemas no Natal e no aniversário, e as intimidades virtuosas caíram em desuso.
Este ano comemoramos cem anos do estabelecimento de relações diplomáticas. Foi um Tratado de Amizade, celebrado em 5 de novembro de 1895, em Paris, entre os embaixadores Arasuko e Toledo Piza e Almeida, no qual os dois países se comprometeram a: ``Haverá paz perpétua e amizade constante entre os Estados Unidos do Brasil e o Império do Japão".
É uma visão bastante larga, àquele tempo, esse documento diplomático. O Japão não era o que é hoje e nossos contatos históricos estreitos estavam apagados e se resumiram, apenas no século 16, às carrancas portuguesas construídas na Bahia e que muitas delas serviram para o ``Navio do Trato", que saía de Macau para Nagasaki a cada três anos, levando sedas da China, especiarias das Índias e trazia prata e tapetes.
O Japão acha que o Brasil não vem se empenhando muito em desenvolver e ampliar relações, julgando que os nipônicos estão envolvidos no seu projeto asiático, onde não existe lugar para a América Latina. Por outro lado, o que nós, brasileiros, sentimentais, consideramos um laço muito forte, a colônia japonesa, para eles não tem a mesma dimensão. Os niseis estão cada vez mais brasileiros, e os sanseis já são estrangeiros. No Japão, também, a presença brasileira é grande. Dos que voltaram e dos que, ali, têm saudades do Brasil.
Mas a verdade é que devemos dar uma sacudidela nesse relacionamento. O Brasil tem de colocar o Japão entre suas prioridades, investir nesse relacionamento, consolidar confianças. O Brasil vai precisar nos anos vindouros, cada vez mais, de créditos para financiar o seu desenvolvimento. E o Japão está cada vez com mais disponibilidade de recursos e em busca de áreas seguras de aplicação.
Este ano do Centenário do Tratado da Amizade Brasil-Japão pode ser um grande ``gancho" para acordar da sonolência em que os dois países estão administrando suas relações.
O Itamaraty só, com a sua competência e o seu esforço, com falta de ferramentas de trabalho, não pode fazer milagres. Há que ter uma vontade política, firme, decidida e uma convicção da importância do Japão para nós. É preciso mobilizar o Parlamento, o governo como um todo, a sociedade brasileira, a colônia japonesa para essa nova arrancada. O Brasil vai ter um fim de século de prosperidade, de estabilidade e de preparação para uma nova fase de crescimento acelerado e firme. Nesse momento, queremos o Japão ao nosso lado com a mesma visão daqueles que, há cem anos, sonhavam com uma ``amizade e paz perpétua".
Afinal o sangue japonês já está circulando no Brasil e já se come ``churrasco ao sol nascente" e se faz Carnaval com saquê e quimono.

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