São Paulo, domingo, 28 de maio de 1995
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Exército quer evitar confronto com petroleiros

GILBERTO DIMENSTEIN
DIRETOR DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

A SAE (Secretaria de Assuntos Estratégicos) e o Ministério do Exército produziram
advertências reservadas para que se evite ao “máximo” qualquer confronto ou se aceitem provocações dos grevistas. Eles temem que um cadáver produza “efeitos políticos” a favor dos petroleiros.
A avaliação do Ministério do Exército e da SAE é de que o movimento grevista, por estar cada vez mais isolado, estimula os radicais entre os petroleiros. O ministério e a secretaria afirmam temer gestos de “desespero”, capazes de produzir violência.
As advertências estão baseadas no fantasma da CSN (Companhia Siderúrgica Nacional). Em 1988, o Exército invadiu a siderúrgica e, no confronto com os grevistas, morreram três operários. Isso produziu um amplo impacto político.
O “desespero” não viria apenas por causa do isolamento político. Há pelo menos, na visão dos setores de informação do governo, mais dois fatores: salários e volta ao trabalho.
A partir desta semana os trabalhadores em greve começam a sentir os efeitos de seus
contracheques em branco. E, com a volta às refinarias de mais trabalhadores, a força da greve vai se deteriorando -a menos que um fato novo seja criado. O fato novo, receia a SAE, seria um gesto de violência, capaz de transformar os petroleiros em vítimas.
O presidente Fernando Henrique Cardoso chegou a confidenciar que um cadáver seria um “desastre” político e o Exército deve estar atento, redobrando as advertências aos oficiais envolvidos.
A tendência natural do movimento, na avaliação do Planalto, é que ele vá cedendo na medida em que o perigo de escassez diminua e os trabalhadores sintam-se pressionados pela falta de dinheiro ou temor das demissões.
Não é apenas o governo que está preocupado com eventuais cenas de violência. O líder do PT na Câmara, Jaques Wagner, transmitiu aos petroleiros, refletindo preocupação do presidente do partido, Luiz Inácio Lula da Silva, para que se preste atenção nos provocadores que fujam do controle da liderança sindical.
O coordenador da Federação Única dos Petroleiros, Antônio Carlos Spis, reafirmou ontem que o "movimento” não quer confronto com o Exército. “Não queremos violência “, disse.
A estratégia dos trabalhadores é se retirar sempre que o Exército ocupar uma refinaria. Isso significa que se os militares tentarem entrar numa casa de força, os petroleiros simplesmente abandonariam o local.
A paralisação de uma casa de força provocaria interrupções na refinaria por pelo menos dias -
o tempo necessário para que seja religada.

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