São Paulo, domingo, 28 de maio de 1995
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Abandono leva noiva a "catástrofe emocional"

DA REPORTAGEM LOCAL

A igreja está lotada, os padrinhos arrumados, os pais em seus lugares esperando os noivos. A noiva, aflita, aguarda a chegada do futuro marido.
Ele está demorando e, então, alguém resolve ligar para saber o motivo do atraso. Do outro lado da linha, uma pessoa responde que o noivo viajou. Desistiu do casamento sem dar notícia.
Parece uma sequência de filme, mas a realidade é muitas vezes ainda mais dramática. O padre Alfredo Nascimento Lima, 38, já presenciou uma história parecida, há cerca de cinco anos atrás.
O casamento estava marcado para as 18h30. ``A noiva ficou esperando dentro do carro, na porta da igreja, até as 19h30, e o noivo não apareceu" diz.
``Eu disse a ela que tinha de rezar uma missa e falei que, se o rapaz fosse, eu celebrava o casamento após a missa."
Os familiares pensaram que poderia ter ocorrido algum acidente. Um dos convidados foi até a casa do noivo para saber o que havia acontecido.
``Informaram que ele tinha viajado sem deixar recado algum", diz o padre. ``É uma situação triste, a noiva chorou muito, ficou inconsolável."
A bancária Rosângela Cruz (nome fictício), 30, viveu um trauma semelhante. Namorou durante três anos um rapaz. ``Eu tinha 27 anos e ele, 24", diz. ``Mandei fazer um vestido caro, todo de pedra, era pesado e muito bonito", conta.
``Um pouco antes do casamento, senti que ele se distanciava, eu ia abraçá-lo e ele se retraía e me evitava." Rosângela perguntou ao noivo o que estava acontecendo.
``Ele me contou que tinha um caso com uma mulher, casada, que dizia estar esperando um filho dele", afirma. ``Terminamos tudo 15 dias antes da cerimônia."
Segundo Rosângela, essa foi a fase mais difícil de sua vida. ``Entrei em depressão profunda, quase morri atropelada duas vezes porque não conseguia prestar atenção em nada", afirma.
A bancária diz que resolveu fazer uma viagem no dia em que o casamento estava marcado.
``Quando voltei, passei a sorrir diante das pessoas. Não queria me sentir envergonhada, me olhavam como se eu fosse doente e tinham de pena de mim."
Rosângela afirma que se recuperou sozinha do trauma, mas ficou dois anos sem namorar. ``No final do ano passado, procurei uma agência de casamento e disse exatamente como deveria ser o homem que eu queria", conta.
``Agora estou namorando e pretendo me casar novamente, mas não vou usar o mesmo vestido de noiva", afirma. ``Acho que uns 15 dias antes do casamento talvez a lembrança de tudo que eu passei volte, mas estou mais segura. Só que meu noivo vai ter que chegar antes de mim à igreja."
Episódios como esse podem marcar a mulher pela vida inteira. ``O casamento é investido de muita idealização, as mulheres projetam suas necessidades e criam um mundo de fantasias do que aquela união pode trazer", diz a psicanalista Elizabete Castelo, 40.
``Deparar-se com a quebra desse investimento todo de forma brusca pode ser catastrófico em nível emocional", afirma.
``Por mais traumatizante que seja para os noivos, o rompimento às vésperas do casamento é menos ruim do que uma vida de desamor familiar", afirma Henry Sobel, 51, presidente do rabinato da Congregação Israelita Paulista.
Carlos Lombardi, autor da novela de TV ``Quatro por Quatro", em que duas personagens têm seus casamentos desfeitos na véspera ou no próprio dia, diz que o medo é o responsável pelo fim das uniões na realidade.
``Uso esse recurso na novela por uma questão de pico dramatúrgico", afirma. ``Fora das telas, acho que o rompimento se dá por causa do medo, mas isso é apenas um chute. Só casei uma vez e nunca fugi."

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