São Paulo, domingo, 28 de maio de 1995
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`O empregado é o maior ativo da empresa'

DENISE CHRISPIM MARIN
DA REPORTAGEM LOCAL

O conjunto de empregados e a maneira como eles trabalham são os principais ativos das empresas.
Essa é a idéia apresentada pelo consultor norte-americano Gary Heil, da Heil and Associates, quando o assunto é mudança nas organizações.
Para ele, novas metas empresariais devem ser incluídas às já existentes. Por exemplo: tratar os empregados da mesma maneira como se espera que eles atendam ao consumidor.
Co-autor do livro ``Liderança e a Revolução do Cliente" (Pioneira, 275 págs.), Heil conduziu um seminário sobre o tema em São Paulo, a convite da HSM, na semana passada. Abaixo, trechos de sua entrevista à Folha.

Folha - Quais as mudanças hoje necessárias na área de recursos humanos das empresas?
Gary Heil - Uma das mudanças deve ocorrer na avaliação do desempenho dos funcionários.
Trata-se, na maioria dos casos, de uma visão desinformada do chefe. Tem mais a ver com o modo como ele trata o subordinado.
O sistema de recompensa também tem que mudar. Nos EUA, cerca de 40% das empresas vão estender o pagamento por desempenho aos níveis mais baixos em 95.
Elas tentam manipular a remuneração das pessoas.
Ao mesmo tempo, a organização quer ser mais ágil, flexível e voltada para o cliente. Quer que as pessoas sejam criativas, que montem uma nova estrutura. E as subornam com pacotes de incentivo.
Folha - Como as mudanças devem incidir no treinamento?
Heil - O treinamento dos recursos humanos deve mudar radicalmente. Nos EUA, na Austrália e no Canadá acredita-se que o treinador tenha poder suficiente para fazer o empregado aprender.
É absurdo. A pessoa que realiza o trabalho é a única responsável por adquirir novo conhecimento.
Folha - Como minimizar as reações a essas mudanças?
Heil - A resistência em uma organização é causada principalmente pela estrutura que determina o comportamento -o modo como organizamos, pensamos, avaliamos, remuneramos, promovemos.
São as regras não-escritas do jogo, que dizem: ``É assim que nós fazemos o nosso negócio".
Se quisermos diminuir a resistência, essas regras deverão dizer: ``É menos arriscado mudar do que estagnar; é mais gratificante".
Folha - Como é possível apontar os erros dos empregados sem causar desmotivação?
Heil - Na organização em que a aprendizagem é valorizada, os erros são tolerados e usados para aperfeiçoar o processo. Não desmotivam.
Folha - Qual o investimento médio das empresas que passaram por essas transformações em treinamento e capacitação?
Heil - Quanto mais eficiente for o treinamento, menor será o dinheiro necessário para realizá-lo.
A maioria das empresas que se candidata ao ``National Quality Award" (Prêmio Nacional da Qualidade) investe de 40 a 60 horas por ano em treinamento.
Folha - As mudanças nas estruturas organizacionais devem ser acompanhadas por alterações nas políticas de salários?
Heil - Para atrair pessoas capazes de lidar com mais tarefas e responsabilidades, os salários e benefícios terão que mudar.
A Levi's acaba de lançar um jeans feito sob medida para mulheres e entregue em casa.
Com isso, o balconista, que recebia um salário mínimo para trabalhar na caixa registradora, agora passa para a linha de frente.
Ele precisará saber o que o processo de produção faz, quais modelos estarão disponíveis, tirar as medidas. Será que vão continuar pagando US$ 4,50 por hora?
Folha - Qual sua opinião sobre a reengenharia?
Heil - A reengenharia é uma ferramenta bastante útil. Ela lida especificamente com a organização ao longo das linhas dos processos. A força motriz que inicia os projetos de reengenharia é, em geral, a redução dos custos.
Ela também não leva em conta a criação de valor, o trabalhador e sua dedicação a uma causa.

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