São Paulo, domingo, 28 de maio de 1995
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Os atritos entre políticos e burocratas

CARLOS ALBERTO SARDENBERG
DA REPORTAGEM LOCAL

Em 1985, quando o governo civil de Tancredo Neves substituía o regime militar, encontraram-se em Brasília os tecnocratas do antigo poder e os políticos que vinham da oposição. Não foi um encontro amistoso. Os tecnocratas achavam que os políticos, mandando, iam estragar tudo. Os políticos achavam que os tecnocratas não serviam para nada num regime democrático.
O livro da socióloga Gilda Portugal Gouvêa, ``Burocracia e Elites Burocráticas no Brasil", estuda justamente como foi esse conflito na área econômica. Ela mesma participante da história, a socióloga conclui que burocratas e políticos tinham alguma razão, uns contra os outros.
Como temiam os burocratas, os políticos revelaram uma forte tendência para avançar sobre o Estado, gastar sem limites e lotear cargos.
E os burocratas, como achavam os políticos, perceberam que eram muito ingênuos ao supor que poderiam agir com independência e autonomia em relação aos poderes políticos.
E como está essa história hoje? Houve um empate.
Para Gilda Gouvêa, as velhas elites burocráticas da área econômica, seu objeto de estudo, perceberam que não basta ter a melhor proposta racional para obter êxito na administração pública. É preciso que essa proposta tenha sustentação política e seja endossada por forças sociais.
E os políticos, pelo menos parte deles, perceberam muito claramente que, no governo, não vão a parte alguma sem uma burocracia competente.
Trabalhando hoje no governo do presidente Fernando Henrique Cardoso, Gilda Gouvêa tira conclusões para o próximo governo. O problema maior, diz ela, é que as elites burocráticas envelheceram e não foram renovadas.
Ao contrário, foram desmobilizadas e desestimuladas com a deterioração das carreiras e dos salários. Vieram exatamente daí as dificuldades de FHC para montar seu governo.
Assim, mesmo que FHC pretenda um Estado menor e mais enxuto, precisa definir já, ``com absoluta prioridade", diz Gilda Gouvêa, um política de carreira e capacitação da burocracia. Ele está convencida de que, como nos anos 50 e 60, o Estado também precisa oferecer salários bons para atrair quadros de primeira.
Gilda Portugal Gouvêa, hoje com 50 anos, é uma tucana típica da era FHC. Desde 1978, quando foi secretária-geral da campanha de FHC ao Senado, ela transita entre a política e a universidade.
No governo Montoro (1983/86) foi sucessivamente assessora política e chefe de gabinete de Luiz Carlos Bresser Pereira e Paulo Renato Souza. Em 1987, assessorou Bresser quando este foi ministro da Fazenda.
Foi nesta função que Gilda Gouvêa encontrou o objeto de sua tese de doutorado, agora transformado em livro. Na Fazenda, ela tomou conhecimento, através de Mailson da Nóbrega, do esforço que um grupo de burocratas havia feito, de 1983 a 1987, para reformar o sistema de finanças públicas no Brasil.
Essa reforma, afinal concluída, foi o ponto de partida das reflexões de Gilda Gouvêa, quando voltou à academia, mais exatamente ao Departamento de Sociologia da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp).
Agora, tese pronta, livro na rua, Gilda Gouvêa voltou ao governo. Trabalha no Ministério da Educação, mas sua atividade de assessoria política passa por várias instâncias do governo FHC.

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