São Paulo, domingo, 28 de maio de 1995
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Terceira geração gaulista assume poder na França

Libération
De Paris

ALAIN DUHAMEL

Alain Juppé como primeiro-ministro, Jacques Toubon, Jean-Louis Debré e os outros ocupando altos cargos no governo francês: é a terceira geração gaulista que assume o poder.
Houve os ``gaulistas históricos", companheiros de armas do general Charles de Gaulle.
Eles se chamavam Michel Debré, Roger Frey, Jacques Chaban-Delmas, Olivier Guichard, etc. Foi a primeira geração, a geração da guerra e da Resistência.
Depois vieram os ministros do governo de Georges Pompidou, que entraram na política no final dos anos 60.
O mais jovem, ativo e promissor entre eles se chamava Jacques Chirac, agora recém-empossado presidente da França. Foi a segunda geração gaulista.
Atualmente é a terceira geração que toma posse dos mais altos cargos no governo, que fez seu estágio no giscardismo e no mitterrandismo.
Com o início do novo mandato de sete anos, a RPR (Reunião Pela República) volta a ser o partido dominante da 5ª República, como já foi, entre 1958 e 1974 -em parte com o próprio De Gaulle.
Desde então, vinha desempenhando papel importante, mas não hegemônico. Sob Valéry Giscard d'Estaing e durante as duas coabitações (governo com presidente e premiê de partidos opostos), foi o maior partido da França, mas teve que compor com uma Presidência da República socialista.
Não passou de principal partido da oposição nas legislaturas socialistas.
Mas agora volta a dominar: Jacques Chirac inicia seu mandato no palácio do Eliseu; Alain Juppé, o mais brilhante representante da geração, instala-se no Hôtel de Matignon, sede do gabinete; o mais carismático dos jovens gaulistas, Phillippe Séguin, domina a Assembléia Nacional, e as idéias no poder passam a seguir as propostas do novo presidente.
A direita francesa será, em primeiro lugar, gaulista.
Tudo isso não era tão evidente. Por imensa que seja a sombra do general, ele poderia ter sido um fundador sem descendentes.
A partir da eleição de Giscard d'Estaing, em 1974, viabilizou-se a idéia do gaulismo centralizar-se num grande partido conservador, como os que existem no Reino Unido, na Alemanha ou nos EUA.
A sociologia do eleitorado e a convergência de ideologias levavam a isso. Mas não aconteceu. Agora, direita e centro se estruturam em torno do gaulismo.
É evidente que isso se deve em parte à identificação entre o general De Gaulle e a 5ª República. Explica-se também pela capacidade que os gaulistas sempre tiveram, desde a Libertação, de se organizarem melhor e fazerem um recrutamento mais eficiente do que os outros setores de direita.
Além disso, a força do gaulismo deve muito à dimensão popular que soube conservar desde o início, e que Jacques Chirac procurou reencontrar durante sua campanha.
Se isso sobrevive, é porque o gaulismo soube dar resposta às preocupações dos franceses.
Os netos de De Gaulle encarnam à sua maneira a resposta política ao mal-estar moral e social da França.
Tradução de Clara Allain

Texto Anterior: China foi espionada na Austrália, diz jornal
Próximo Texto: Darwin pode explicar doenças
Índice


Clique aqui para deixar comentários e sugestões para o ombudsman.


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.