São Paulo, domingo, 28 de maio de 1995
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A sorte do planeta Terra

ANTONIO ERMÍRIO DE MORAES

Por quanto tempo a população mundial poderá continuar crescendo da maneira como vem fazendo nos dias atuais? Essa pergunta atormentou o sono dos 68 anos de vida que teve o economista inglês, Thomas Robert Malthus. Na sua teoria, as populações humanas cresceriam até o limite dos meios de subsistência e seriam autocontroladas pelas pestes, fome, miséria, vícios e guerras.
O seu sono seria ainda mais tormentoso tivesse ele vivido nos dias de hoje, quando a população mundial cresce na base de 1,4% ao ano -o que significa um acréscimo anual de 90 milhões de habitantes- fazendo prever 12 bilhões de habitantes até o ano 2050.
Os demógrafos de maior expressão que se reuniram no Cairo em 1994 acreditam que o equilíbrio populacional depende de um crescimento que não ultrapasse a 1% ao ano. Nessa base, a população do planeta alcançaria a cifra de 10 bilhões de habitantes daqui a meio século. Mesmo nessa hipótese otimista, o desafio é fenomenal quando se considera que o PIB mundial vem se defasando em relação ao PIB per capita. De fato, entre 1950-70, o primeiro cresceu cerca de 5% ao ano enquanto que a renda por habitante aumentou apenas 3%.
Na década de 80, o quadro piorou: o crescimento da economia caiu para 3% ao ano e o da renda per capita para 1,6%. Nesta primeira metade da década de 90, tivemos mais um revés: o crescimento baixou para 1,4% anualmente e o PIB per capita diminuiu 0,3% ao ano (negativo).
O que dizer dos meios de subsistência? Há dez anos, os estoques de alimentos davam para a humanidade enfrentar 104 dias de crise. Hoje, dão para apenas 50 dias. Países ricos como o Japão, por exemplo, importam 77% dos grãos que sua população consome. Esse é o padrão também de Formosa e Coréia do Sul.
Tudo isso nos leva a especular sobre a validade das velhas teses de Malthus. Durante um bom tempo, elas andaram fora de moda pois a produção agrícola aumentou muito mais do que ele esperava. Hoje, porém, as melhores agriculturas do mundo começam a mostrar sinais de fadiga. O seu crescimento está comprometido. A produção da China deve decrescer à base de 0,5% ao ano, por falta de água -especialmente na região norte. A produção do Japão, está caindo 1% ao ano; e da do Coréia 2%.
No Brasil, a produção agrícola cresce acima da média mundial -o que é uma grande vantagem. Mas a renda per capita, durante toda a década de 80, decresceu muito e está demorando para se recuperar -o que é uma grande desvantagem. Isso nos dá boas perspectivas para exportar alimentos e grandes problemas para alimentar o nosso povo.
O desafio para o Brasil, portanto, é o de fazer crescer o poder de compra da sua gente -inteiramente fora do atual quadro recessivo- e continuar aumentando a sua capacidade de exportar. Essa é a chance que a história parece ter reservado aos brasileiros para desmentir, de uma vez por todas, a perigosa tese de Malthus. Do contrário, o controle da população terá de ser feito pelos métodos malthusianos que, evidentemente, ninguém deseja.

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