São Paulo, domingo, 28 de maio de 1995
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Itamar e Junot

CARLOS HEITOR CONY

RIO DE JANEIRO - A viagem de Itamar para Lisboa parece fato consumado, só que não é viagem: é expedição. Leva mordomo, cozinheiro, médico particular, deverá levar barbeiro, manicure, dentista, alfaiate -o governo de FHC bancará todas as despesas, desde que fique livre dele.
FHC sabe o que deve a Itamar. Tem de tratá-lo como o Nelson Rodrigues tratava a sua úlcera: a pires de leite, como uma gata de luxo. Não sou entendido em lides diplomáticas, mas acredito que os embaixadores, quando assumem postos no exterior, levam a família, alguns livros, os remédios caseiros e as malas. No mais, utilizam a estrutura do Itamaraty, que fornece secretários, motoristas, alojamento, correio, fax, essas coisas.
Se o governo pensa que ficará em paz com o fantasma de Juiz de Fora confinado no outro lado do oceano, seria bom lembrar que JK quis se livrar de um chefe da Casa Civil que também era teimoso. Mandou Álvaro Lins para Lisboa (que está se especializando em atrair pepinos) -e quase estourou uma guerra entre Portugal e Brasil. Seria divertido, o anedotário entre os dois países-irmãos, que já é suculento, ficaria maior e melhor.
Quem pagará as despesas com médico, cozinheiro, secretárias e, futuramente, barbeiro, manicure, pedicure, massagista, intérpretes (uma corte completa) seremos nós, contribuintes, que já pagamos a previdência que não temos, a segurança que não temos, a educação e a saúde que também não temos.
Itamar não pagará nada. É a mordormia total. Misturará a fragrância do jardim, à beira-mar plantado, com os ares salubres de Juiz de Fora. Sua última trapalhada teve como palco um bar naquela cidade, onde se comprometeu a dar uma reposição salarial que não foi dada. Ao contrário de FHC, que é o primeiro (e único) a esquecer o que escreveu, Itamar tem memória de cão: lembrou o que disse, nem assim foi levado a sério.
Quando o general Junot invadiu Portugal, a corte fugiu para o Brasil. Com Itamar, os portugueses não correrão o mesmo perigo. Se mandarem Itamar de volta, quem correrá perigo será a corte de FHC.

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