São Paulo, domingo, 28 de maio de 1995
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caretas do Brasil

HELOISA HELVECIA

poderia ter outro nome. Brincante é reminiscência do português arcaico. "No inglês, `play' é atuar e brincar; em Portugal ainda se usa `brincar' com essa dupla acepção. Acho bonito, porque arte não é mais que uma brincadeira levada a sério."
Para lá de sério quando livre do exu-Tonheta, a glamourização da arte o incomoda. "Melhor programa para mim, depois do espetáculo, é ir para casa. Me identifico com a atitude do ator oriental, sua impregnação religiosa. Se fosse escritor, poderia viver longe da mundanidade."

Tema e técnica
Mais antenas, como as de Antonio Nóbrega, estariam captando vínculos com o país. Ele enxerga uma retomada da "vertente brasileira" em alguns trabalhos artísticos. "No momento, o reencontro com o país se dá sem a impregnação fascistóide: não para nos separar de outras nações, mas para nos colocar junto às outras com nossas singularidades." Não basta, diz, se apropriar de temas nacionais como faziam movimentos teatrais dos 60. "A diferença agora é a forma de encenar, o fazer."
No segundo semestre, Nóbrega faz seu universo tonhetano virar cinema, nas mãos de Cacá Diegues. Depois, quer desacelerar. Vem de uma fase de quatro montagens em três anos, sem falar em "Na Pancada do Ganzá", show que apresentará com cinco músicos ainda em 95. "Estou em defasagem comigo. Quero nutrir meu universo de criação, mas em clima mais parcimonioso."
Menos parcimonioso, diz que o teatro Brincante pretende promover "a discussão do Brasil". Planeja para seu espaço mostras mensais de cinema nacional e cursos. "A gente está tendo oportunidade de se encontrar mais a si mesmo como povo."
Na sua ida às tradições culturais, o criador dessas comédias simples e refinadas percebeu que se reconhecer no Brasil não depende de região de origem, referência de infância. Diz que acordou atrasado para o país dentro dele. "Mas ficou claro: o Brasil é captável em qualquer idade."

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