São Paulo, domingo, 28 de maio de 1995
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Como a TV fatura às custas do cinema

SÉRGIO AUGUSTO
DA SUCURSAL DO RIO

Qualquer cinéfilo sabe que não foi Miriam Hopkins, mas Gloria Swanson, quem estrelou ``O Crepúsculo dos Deuses``, que Jack Palance jamais encarnou o conde Drácula diante das câmeras, que Arlene Dahl nunca se chamou Ilse Lund na tela, e que Alan Ladd foi o único intérprete de Shane, certo?
Errado. Na TV, foi Miriam (e não Gloria) quem deu vida à decadente diva de ``Sunset Boulevard". Em 74, Jack rodou uma versão de ``Drácula" para a TV, mesmo veículo onde, há 31 anos, Arlene Dahl e Paul Douglas repetiram as façanhas de Ingrid Bergman e Humphrey Bogart em ``Casablanca". Quanto ao Shane, David Carradine também já o viveu, no vídeo.
Readaptar êxitos da tela grande à pequena tem sido uma prática da indústria do audiovisual americana desde a época em que ``...E o Vento Levou`` mal completara dez anos de sucesso. Entre 49 e 57, por exemplo, a Fox produziu para a TV filmes como ``Laura", ``The Ox-Bow Incident" (Consciências Mortas), ``The Gunfighter" (O Matador), ``Phone Call From a Stranger" (Telefonema de um Estranho) e ``14 Hours" (Horas intermináveis). Com outros atores, diretores -e só 45 minutos de duração.
O trio de ``Laura"? Dana Winter, Robert Stack e George Sanders. Mais interessante que a dupla da telerrefilmagem de ``Double Indemnity" (Pacto de Sangue): Laraine Day e Frank Lovejoy. Na TV, as coisas sempre baixam de nível. No cinema, ``From Here To Eternity" (A um Passo da Eternidade) tinha Burt Lancaster, Deborah Kerr e Donna Reed. Naquele telefilme de 16 anos atrás, seus protagonistas eram William Devane, Natalie Wood e Kim Basinger. Desastre maior só o casal que fez às vezes de Montgomery Clift e Elizabeth Taylor no ``A Place in the Sun" (Um Lugar ao Sol): John Derek e Ann Blyth.
Apesar do desnível, tais produções tornaram-se objetos de curiosidade e pesquisa no Museu do Broadcasting, em Nova York, cujo acervo abriga centenas de teledramas, protagonizados por atores os mais imprevisíveis. Tudo bem que uma juvenil Tuesday Weld recriasse a Cherie de ``Bus Stop" (Nunca Fui Santa) e uma ainda mais jovem Jody Foster substituísse Tatum O'Neal na versão televisiva de ``Paper Moon" (Lua de Papel). Mas não dá para engolir o grandalhão Michael Rennie na pele de Harry Lime, o genial personagem de Orson Welles em ``O Terceiro Homem".
Há quem julgue meritória a participação de Teresa Wright e Patty McCormick na televersão de ``The Miracle Worker" (O Milagre de Anna Sullivan), mas só isso. Por melhor que estejam, não resistem à comparação com a dupla do filme de Arthur Penn, Anne Bancroft e Patty Duke, premiada com dois Oscars.
Igual prestígio cerca o casal Piper Laurie-Cliff Robertson, alcoólatras da teleadaptação de ``Days of Wine and Roses", cuja versão cinematográfica, estrelada por Lee Remick e Jack Lemmon, passou aqui com o título de ``Vício Maldito". Só vendo pra crer.
A filmografia completa de tais adaptações seria imensa. Sobretudo se nela incluíssemos todas as séries inspiradas em filmes populares. Exemplos: ``Cidade Nua", ``Peyton Place" (A Caldeira do Diabo), ``Asphalt Jungle" (O Segredo das Jóias), ``Life With Father" (Nossa Vida com Papai), ``Topper", ``Ivanhoé", ``Love is a Many Splendored Thing" (Suplício de uma Saudade), ``The Odd Couple" (O Estranho Casal).
Só as duas primeiras chegaram à TV brasileira. A julgar pelo que vi, aqui e nos EUA, não perdemos grande coisa.

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