São Paulo, segunda-feira, 29 de maio de 1995
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Esquerdas crêem em falência de nova ordem

GEORGE ALONSO
ENVIADO ESPECIAL A MONTEVIDÉU

Sem conseguir formular um modelo de desenvolvimento alternativo, à esquerda latino-americana só restou apostar na falência da chamada nova ordem mundial.
Essa nova ordem é marcada pela globalização da economia, e cobrar dos governos ``neoliberais" políticas compensatórias, que possam minorar a miséria dos excluídos do sistema econômico.
É o que se pôde deduzir dos debates do 5º Foro de São Paulo, que reuniu, de sexta-feira até ontem, em Montevidéu, Uruguai, cerca de cem partidos de esquerda de 28 países da América Latina.
O foro foi criado há cinco anos, na cidade de São Paulo, daí o nome.
Entre os presentes, estavam grupos que ainda adotam a luta armada, como a União Revolucionária Nacional Guatemalteca (URNG) e as Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (Farc).
Até o Sinn Fein, braço político do IRA (irlandês), e a Herri Batasuna, braço político da organização nacionalista ETA (País Basco e Liberdade), que atua na Espanha, enviaram observadores. Na mesma condição, havia membros do PC do Vietnã e delegados enviados pelo coronel Muamar El Khadafi, da Líbia.
O PT (Brasil), o Partido da Revolução Democrática (México) e a Frente Ampla (coalizão de esquerda do Uruguai) têm posição de liderança no foro.
Ficou claro que os esquerdistas ainda não têm uma estratégia para enfrentar a chamada globalização, caracterizada pela união dos mercados internacionais e progressiva eliminação de tarifas ou restrições à circulação de bens e serviços.
Assim, só lhes resta apostar em que a legião de excluídos que o modelo gera aponte uma saída para a esquerda.
O diagnóstico do PT, por exemplo, sobre os efeitos do avanço neoliberal no continente e da ação -``nem sempre clara"- da esquerda serviu como base da reflexão do foro. Depois de três dias de reuniões, o documento final do encontro aponta linhas de ação.
Os esquerdistas pretendem lutar por uma relação soberana com os órgãos financeiros internacionais e estabelecer uma agenda comum na Organização Mundial do Comércio (ex-Acordo Geral de Tarifas e Comércio).
O México foi o grande cavalo de batalha na crítica ao neoliberalismo que varre a América Latina, marcado pela privatização de estatais e pelo enxugamento do Estado.
A atual crise mexicana foi atribuída às ``perversões do mercado". O documento recusa o Estado mínimo, que não interfere na economia, mas fala em um ``novo Estado", menos intervencionista.
O México é usado como exemplo de que o neoliberalismo e a globalização tornam os países subdesenvolvidos cada vez mais dependentes dos centros internacionais de poder, criando mais desigualdades sociais.
``O sistema capitalista tem demonstrado tremenda capacidade de adaptação. É forçoso reconhecer que a esquerda não tem conseguido elaborar uma teoria completa de desenvolvimento econômico e social alternativo", diz o general uruguaio Liber Seregni, 78, presidente da Frente Ampla.
Impotentes, os partidos do foro avaliam que aumenta a distância entre o Primeiro Mundo e o Terceiro, resultante do projeto neoliberal e da Terceira Revolução Tecnológica, a da informática.
``O neoliberalismo nos empurra para o Quarto Mundo", diz Marco Aurélio Garcia, 53, secretário de Relações Internacionais do PT.
Segundo Garcia, o importante agora, enquanto são discutidas estratégias de longo prazo, é dar respostas a questões imediatas. ``Está difícil, mas temos tentado cobrar já políticas compensatórias", diz.

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