São Paulo, segunda-feira, 29 de maio de 1995
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'Governo é neoentreguista', diz Quércia

EMANUEL NERI
DA REPORTAGEM LOCAL

Com duras críticas ao governo federal, o ex-governador paulista Orestes Quércia (PMDB) anunciou ontem seu apoio à campanha pró-monopólio do petróleo. Chamou as reformas econômicas de ``entreguistas" e de ``aventura irresponsável".
``É o novo entreguismo, o `neoentreguismo', sagaz, traiçoeiro, intelectualizado", disse. Convocou seu partido a abandonar o apoio ao governo FHC.
Entreguismo era o termo empregado na década de 60 para opor os nacionalistas e esquerdistas aos que pregavam a inserção do Brasil na economia internacional.
As declarações de Quércia foram feitas em discurso no encerramento da convenção do PMDB paulista. Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e Leonel Brizola (PDT) têm feito apelos a ele para aderir à frente pró-monopólio. Os três devem se encontrar.
O discurso é uma tentativa de mudar o comportamento do PMDB nas votações do Congresso. Foi redigido com a ajuda de deputados federais e dos economistas João Manoel Cardoso de Mello e Luiz Gonzaga Belluzzo.
Ao contrário de outras manifestações, desta vez, Quércia leu o discurso. Improvisou apenas no fim, quando comparou os setores do PMDB contrários ao governo FHC à ``resistência dos franceses contra os nazistas".
No discurso, disse que o país está ``sendo desastrosamente levado ao caos social". Para ele, ``a orquestração da opinião pública" em apoio às reformas ``esconde mecanismos que conduzem o país a uma brutal recessão".
``O governo conspira nos bastidores de Brasília -e, provavelmente, nos conluios de suas viagens internacionais- pela modernização a serviço do patrão estrangeiro", afirmou.
Para ele, a Petrobrás ``deve ser respeitada por tudo que ela representa para o desenvolvimento nacional" e pela tecnologia que desenvolveu. Defendeu uma ``concorrência salutar" para a estatal.
O ex-presidente do PMDB discorda da ``fórmula mágica" que, segundo ele, o governo encontrou para pagar juros com o dinheiro das privatizações. Em seu governo (1987-1990), ele vendeu a Vasp ao empresário Wagner Canhedo.
O ex-governador diz que o processo de privatização de FHC é feito ``a toque de caixa, para arrecadar dinheiro e saciar o apetite dos banqueiros e dos especuladores internacionais". O atual governo, para ele, quer ``torrar as nossas empresas, num processo estúpido e rápido, porque o desespero pelo dinheiro é muito grande".
Fez ainda um apelo para que os deputados peemedebistas sigam o exemplo do PMDB de São Paulo.
Ele não enfrentou oposição na convenção do PMDB paulista. O grupo do ex-governador Luiz Antonio Fleury Filho, seu principal adversário, não apresentou chapa.
Para o líder do PMDB na Câmara, Michel Temer, a nova posição de Quércia deve atrair votos contra a quebra do monopólio.

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