São Paulo, segunda-feira, 29 de maio de 1995
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Adubo da prefeitura pode ser cancerígeno

VICTOR AGOSTINHO
DA REPORTAGEM LOCAL

O adubo produzido pela Prefeitura de São Paulo a partir do lixo coletado na cidade tem metais pesados, nocivos à saúde, acima do estabelecido em acordos internacionais.
O estudo foi feito pela pesquisadora Grícia Grossi, 36, na Alemanha, e é resultado de sua tese de doutorado, defendida na USP. Grossi pesquisou 65 amostras de 21 usinas no país todo. Em São Paulo, foi analisado o material da usina de Vila Leopoldina (zona oeste).
``Não dá para dimensionar exatamente o mal, mas, de qualquer forma, não faz bem à saúde. Pode causar câncer nas pessoas, atingindo principalmente o fígado e os rins, que são os nossos filtros", diz a pesquisadora.
Composto é o nome dado ao adubo produzido com lixo nas usinas. Já a compostagem é o processo para se obter o adubo, ou seja, a transformação da parte orgânica do lixo em corretivo para o solo.
Segundo Grossi, o composto, para ter qualidade e não ser nocivo ao ser humano, deve ficar cerca de oito dias dentro de um digestor sendo revolvido, triturado e recebendo ar. Isso faz com que o lixo se decomponha e vire adubo.
O composto que sai da usina de Vila Leopoldina é vendido a sitiantes da Grande São Paulo e de Jundiaí (plantadores de uva, basicamente) por R$ 0,25 a tonelada.
Para Grossi, esse é o principal problema. ``Como não é feita coleta seletiva de lixo, e a retirada de metais, papéis e vidros é muito precária, o adubo acaba contendo elementos prejudiciais à saúde".
Pressa
Ela acredita que a ``pressa" em processar o lixo é resultado do contrato estabelecido entre as empresas Logus e Radial, que processam o lixo, e a prefeitura: o pagamento é feito pelo lixo que entra, não pelo composto que sai. ``O interesse é liberar logo o lixo que está sendo processado", afirma.
Além dos metais pesados, o adubo de Vila Leopoldina possui outras substâncias cancerígenas, as dioxinas.
Essas substâncias podem ser encontradas, por exemplo, na poeira retirada do carpete sintético pelo aspirador de pó. Como não existe coleta de lixo seletiva, essa poeira se incorpora ao lixo processado e, consequentemente, ao adubo.
``Na Alemanha, é admitido um nanograma (10-9 gramas) de equivalente de toxicidade por quilo de composto. No composto brasileiro estudado por Grossi, foi encontrada a média de 33 nanogramas por quilo", afirma a pesquisadora.

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