São Paulo, segunda-feira, 29 de maio de 1995
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Brinquedo terá proteção do governo

NELSON BLECHER
DA REPORTAGEM LOCAL

O setor de brinquedos deverá ser o primeiro beneficiado pelo decreto presidencial, em vigor desde o último dia 11, que protege a indústria nacional contra o excesso de importações.
Esse decreto prevê a aplicação de medidas de salvaguarda (que vão desde elevação de alíquotas até imposição de cotas) quando o aumento de importações causa ou ameaça causar ``prejuízo grave" à indústria.
Através de sua associação empresarial, a Abrinq, os fabricantes alegam que os brinquedos importados deverão representar este ano 40% das vendas no mercado brasileiro -eram apenas 5% em 1990.
Nesse período, a alíquota de importação caiu de 85% para 20%.
Levantamento conduzido pela entidade projeta em US$ 250 milhões o faturamento das importações com base nos preços de embarque dos produtos. Esse valor será ainda maior quando o produto for vendido ao consumidor final. Trata-se de crescimento expressivo se comparado aos US$ 89 milhões registrados em 1994.
``As indústrias correm o risco de serem transformadas em depósitos de produtos estrangeiros", afirma o empresário Mario Adler, presidente da Estrela e do conselho da Abrinq.
Esses valores não contabilizam o contrabando, estimado em US$ 120 milhões anuais. ``Em 1994 entraram, somente pelo Paraguai, US$ 60 milhões em brinquedos e jogos", diz Adler.
O principal alvo da Abrinq são os brinquedos procedentes da China que, segundo o empresário, são produzidos em condições que configuram concorrência desigual.
Um estudo conduzido pela Coopers & Lybrand, que será anexado à documentação, revela diferenças marcantes em relação a salários e horas trabalhadas de operários brasileiros e chineses.
``O México impôs, em 1993, uma sobretaxa de 350% aos brinquedos chineses, entre outras medidas anti-dumping", afirma Synésio Batista da Costa, diretor da Abrinq, ao se referir às sanções contra a prática de venda de produtos a preços abaixo de custo para demolir concorrência.
Seis outros setores em dificuldades também vêm sendo avaliados pelo Ministério da Indústria e Comércio: têxtil, cerâmica, autopeças, calçados, moveleiro e vinícola.
``O processo do setor de brinquedos está adiantado", disse Hélio Mauro França, secretário-adjunto de Comércio Exterior.
Segundo Costa, sete funcionários da associação trabalham em tempo integral no levantamento de informações que deverão compor um completo raio X do setor.
A entidade vem recebendo orientação, nessa fase, da própria ministra da Indústria e Comércio, Dorothéa Werneck.
O secretário-adjunto diz que o governo vai agir com rapidez na adoção de medidas de salvaguarda, ``desde que a documentação esteja correta".
``Como 84% das vendas ocorrem no segundo semestre, ainda há tempo para evitar queima de divisas", diz Costa.
A proteção é condicionada por medidas de ajuste setorial. A Abrinq se compromete a elevar em 2.000 o número de empregos, reduzir em 5% os preços dos brinquedos até dezembro e melhorar os níveis de eficiência e competitividade.
Segundo Adler, as indústrias de brinquedos já investiram US$ 32 milhões em programas de produtividade.``Poucos setores conseguem lançar de 800 a mil novos produtos a cada ano".

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sobre o setor de brinquedos na pág.2-2

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