São Paulo, segunda-feira, 29 de maio de 1995
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MOCINHOS E BANDIDOS

ANTONINA LEMOS
DA REPORTAGEM LOCAL

Viva a diferença. A Folha reuniu na semana passada dois dos principais grupos de rap do Brasil: o Sampa Crew e o Pavilhão 9. Normal, isso se os grupos em questão não fossem completamente diferentes.
O Sampa Crew faz rap romântico, com som para dançar e letras melosas. Vão a programas de auditório e vendem muito.
O Pavilhão 9 corre por fora. O grupo segue a linha ``gangsta"(facção do rap considerada radical, feito por pessoas que geralmente já tiveram passagem pela polícia), usam máscaras na cara e venderam 20 mil cópias de seu último disco.
A conversa com JC Sampa e Junior Vox (do Sampa) e Camburão, Hossi, Branco e Blindado, (do Pavilhão) aconteceu na sede paulista da gravadora Sony Music, onde o Sampa Crew lançava seu sexto LP, ``Verdadeira Paixão".

Folha - O que o Sampa Crew acha do Pavilhão 9?
JC Sampa - Eles são legais porque respeitam os outros grupos e as facções do rap mundial. Os meus grupos prediletos no rap nacional são o Pavilhão, os Racionais e o Pivete.
Folha - E o que o Pavilhão acha do Sampa Crew?
Hossi - A gente não tem preconceito contra eles. Conhecemos os caras há um tempão e sabemos que eles fazem rap romântico desde o início. Não mudaram o som para fazer sucesso.
Folha - Mas existe patrulha ideológica no rap, não é?
Hossi - Existe. As pessoas falam muito em união, mas na hora é cada um por si. As pessoas não respeitam o estilo de cada um.
JC Sampa - A patrulha é tanta que hoje nós temos mais amizade com a turma do samba. Tem muita gente no movimento rap só por onda.
Folha - Vocês, do Sampa, só fazem letras românticas, não pensam em falar sobre racismo, por exemplo?
JC Sampa - Não. A minha revolta é tão grande que eu não consigo passar nas letras. O racismo me deixa louco. Se escrevesse tudo o que penso ia acabar morto. Eu sinto revolta cada vez que levo uma dura da polícia. Sempre discuto com os policiais. Mas separo a música disso tudo. Escrevo o que eu gosto de escrever e o povo gosta das minhas músicas.
Folha - Quantas duras vocês já levaram?
Todos (rindo) - Ihh, não dá para contar, levamos dura sempre.
Camburão - É racismo. E o racismo no Brasil é contra pobre.
JC Sampa - No Brasil, se você é negro, nordestino, gay e pobre você está fodido. O preconceito existe no Brasil sim, e é importante falar sobre isso.
Folha- Vocês estão concordando em tudo. Pelo jeito, a discordância entre vocês é só musical...
JC Sampa - Não temos discordâncias ideológicas com quem faz som mais radical. Só a música é diferente. O rap hoje é universal e tem várias linhas.
Hossi - É claro que nós seguimos linhas diferentes, mas quem faz um trabalho sério tem que ser respeitado.
Folha - Vocês estão ganhando dinheiro com o rap?
JC Sampa - Desde que eu lancei o meu primeiro disco, em 90, vivo do rap. Já passei muita necessidade. Hoje não sou rico. Só que ganho mais do que ganhava antes, trabalhando como bancário.
Camburão - Nós também vivemos de rap. Com muita batalha. Mas fazemos o que gostamos.

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