São Paulo, segunda-feira, 29 de maio de 1995
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Sem atalhos

A crise mexicana que teve início em dezembro desatou as mais sombrias perspectivas sobre a América Latina. Imaginava-se uma onda de fuga de capitais sem precedentes, ruptura financeira em vários mercados e até mesmo riscos políticos para as democracias da região.
Passados praticamente seis meses desde o terremoto cambial do México, uma avaliação mais correta do ``efeito tequila" é fundamental. Assim como é imprescindível evitar a recaída na ilusão de que o caminho rumo ao crescimento estável, com base no financiamento externo, será retilíneo e sereno.
Há sinais de que a recessão se aprofunda na Argentina, apesar da reversão do déficit no comércio exterior animada em boa medida pelo estímulo do aquecimento brasileiro que, aliás, está em vias de extinção.
A arrecadação de impostos na Argentina caiu pelo quinto mês consecutivo, refletindo a queda das vendas. E já dá lugar a rumores insistentes de que o governo deverá encaminhar ao Fundo Monetário Internacional um ``waiver", ou seja, misto de desculpas e pedido de exceção para as metas fiscais que haviam sido acordadas.
Uma pesquisa de opinião conduzida pela Fiel (Fundação de Investigações Latino-Americanas) com lideranças empresariais argentinas revela consenso de que não haverá saída rápida para a recessão.
No México as notícias não são mais animadoras. Já se fala num plano de reestruturação de dívidas, envolvendo empresas e bancos, dados os níveis exorbitantes de inadimplência. O acúmulo de títulos públicos em dólar e com vencimento previsto para junho já dá lugar a novos temores de que o México entre em moratória também com os credores externos. Tais temores ajudam a explicar a nova queda do dólar nos mercados internacionais.
As condições na Argentina e no México passam por uma deterioração indiscutível, cujos efeitos são ainda imprevisíveis. O ajuste dessas economias será tortuoso, acidentado e sacrificado. A verdade é que não existem atalhos na estrada do desenvolvimento econômico.

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