São Paulo, quarta-feira, 31 de maio de 1995
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As vermelhonas

THALES DE MENEZES

Como acontece todos os anos, o noticiário de Roland Garros vai trazer uma discussão: por que ainda se utilizam quadras de saibro?
Não há dúvidas de que o saibro parece uma coisa ultrapassada.
As quadras chamadas sintéticas, que são de cimento ou qualquer outra superfície dura coberta por um tapete de borracha muito esticado, acumulam vantagens sobre as ``vermelhonas" (gíria de tenista para quadras de terra batida).
Primeira delas: conservação. A quadra de saibro precisa constantemente de umas boas varridas e irrigação na medida certa. A sintética, nada disso.
Outra vantagem aparece na hora da chuva. Depois de um temporal (ou até uma chuvinha meio mixuruca), o saibro leva um bom tempo para secar. Se tiver formado poças, pode esperar pelo menos um par de horas.
Em uma quadra sintética, basta um rodinho para puxar a água e é possível jogar imediatamente após a chuva parar.
Uma última vantagem, mas muito importante, é a facilidade de adaptação que uma pessoa que nunca jogou tênis tem na quadra sintética.
A coisa é simples: correr no saibro não é fácil. Você não consegue ``brecar" direito, o seu pé tende a escorregar e levantar todo aquele poeirão tradicional.
Para jogar bem, a pessoa tem que aprender a deslizar os pés na última passada antes de desferir o golpe na bolinha. Isso requer um tempo de prática.
Por isso, quem começa a jogar em quadras sintéticas normalmente consegue atingir um bom desempenho nas rebatidas (aquele mínimo suficiente para não dar vexame no clube) em menos tempo do que os iniciantes no saibro.
Pelas vantagens relatadas, dá para afirmar, com convicção, de que as quadras sintéticas são mais práticas do que as de saibro.
Os norte-americanos, que são os reis da praticidade, aboliram as vermelhonas faz um bom tempo. Por isso, é difícil achar um bom jogador dos EUA nesse piso.
No entanto, Europa e América do Sul resistem ainda como territórios de saibro. E apenas duas coisas podem justificar isso.
Uma, a questão econômica: custaria caro reformar milhares de quadras. A outra justificativa tem caráter romântico: o jogo no saibro é mais gostoso de se assistir. É mais fácil acompanhar a bolinha, que quica um pouco mais lenta.
E há a beleza do poeirão que se ergue em volta do tenista. Suja a roupa, mas é muito bacana.

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