São Paulo, quarta-feira, 31 de maio de 1995
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Miró inédito chega ao Brasil este ano

``Caminhos da Expressão" abre em outubro no Rio

LUÍS ANTÔNIO GIRON
DA REPORTAGEM LOCAL

Obras inéditas do pintor catalão Joan Miró (1893-1983) virão ao Brasil para a maior mostra já realizada sobre o artista no país.
A mostra ``Miró, os Caminhos da Expressão" estréia em 12 de outubro no CCCB (Centro Cultural Banco do Brasil), no Rio de Janeiro, dentro das comemorações dos seis anos da instituição. Permanece ali até 19 de dezembro. Em 9 de janeiro do próximo ano, vem para o MAM (Museu de Arte Moderna) de São Paulo, onde permanece até 15 de fevereiro.
A exposição compreende 164 peças -140 desenhos, 13 telas e 11 esculturas-, a maior parte delas proveniente da Fundação Pillar e Joan Miró de Palma de Maiorca (ilha da Espanha). O convênio de transporte e seguro entre o museu e a Fundação Banco do Brasil foi firmado em janeiro. O CCBB não revela os valores envolvidos.
O seguro não deve ser menor que US$ 10 milhões. Miró é um dos mais importantes artistas modernos, e sua obra alcança altas cotações no mercado, embora menores que as de Matisse e Picasso.
Já nos anos 20, quando associou ao surrealismo a sua pintura onírica, povoada de estrelas, animais e formas infantis, o artista desejava ``assassinar a pintura de cavalete" para forjar uma arte para a ``enorme massa de seres humanos". Produziu muitas gravuras e esculturas em série, o que, na média, diminui o valor da obra.
A intenção da curadora da mostra, a professora argentina Irma Arestizabal, diretora do Museu da Casa Rosada em Buenos Aires, é atrair multidões para o gesto criativo, as técnicas e o estilo tardio e menos conhecido do artista.
A mostra ocupará três salas no segundo andar do CCBB, no centro do Rio. O público terá acesso a um CD-ROM sobre o autor, acoplado em dois monitores, e a dois documentários produzidos em Maiorca com depoimentos de Miró. Para marcar cada técnica utilizada, serão exibidos painéis fotográficos com o artista em ação, realizados por seu amigo, o fotógrafo catalão Catalá Rocà.
``Não é uma retrospectiva, e sim um evento didático", diz Irma. ``Mas contém atrações que não costumam vir em exposições similares no Terceiro Mundo."
A curadora assistente, Piedade Grinberg, está trabalhando no Rio na edição do catálogo e na supervisão da montagem do evento e aposta na repercussão internacional da mostra.
Entre os chamarizes figuram os 140 desenhos inéditos. São esboços simples, alguns deles anotados a lápis pelo autor, e esboços preparatórios para projetos gráficos.
Destes, destacam-se os que o artista preparou para o livro ``Miró" (1950), do poeta pernambucano João Cabral de Mello Neto. Parte dos desenhos não foi aproveitada no volume. Miró deu as pranchas prontas de presente ao poeta, que mais tarde as vendeu.
Essas obras nunca saíram de Maiorca, onde foram expostas entre novembro de 1994 e fevereiro último.
A situação das esculturas permanece indefinida. Podem vir tanto de Maiorca como do Museu Rainha Sofia, de Madri. Trata-se do mesmo conjunto de obras em bronze, das quais Miró produzia as sete réplicas de praxe. A peça mais importante é ``Cabeça e Pássaros", de 1981.
As telas ocuparão a sala central. Pertencem à última fase do pintor, durante a qual ele acentuou os grafismos, sintetizou o traço e reduziu a cor, por influência da gravura japonesa. O destaque nessa seção é a junção de duas telas grandes nunca antes reunidas: ``Mosaico", de Maiorca, e ``Lição de Esqui", do Museu Sofia Imber, de Caracas. Ambas têm cerca de 2 metros de altura por 1,5 metro de comprimento e integram uma mesma série, de 1966, em que Miró utiliza óleo e carvão.
Irma quer acentuar na exposição o caráter acidental e ao mesmo tempo rigoroso da criatividade de Miró: ``Ele era capaz de estudar os rastros das formigas para transfigurá-los num quadro. Adotava como obra respingos de tinta que acidentalmente ocorriam. Preferia os pincéis usados aos novos, porque eles ofereciam um traço de acaso".
Exemplo: Miró levou anos para decidir se punha cor no ``Mosaico", todo em preto e branco. Numa tarde, pingou tinta vermelha no olho do personagem. Só então deu a obra por concluída.

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