São Paulo, quarta-feira, 31 de maio de 1995
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Preços chocam Silvio de Abreu

CELSO FIORAVANTE
DA REDAÇÃO

Silvio de Abreu possui uma videoteca de cerca de 2.500 títulos. ``Mas poucos comprados no Brasil", avisa ao mercado o autor de telenovelas.
Ele diz não se conformar com os preços aplicados no mercado brasileiro. ``Por que eu devo pagar R$ 50,00 ou mais por um lançamento no Brasil se posso pagar US$ 14,00 por um filme como `O Homem que Sabia Demais' nos EUA? É por causa da legenda? Muito obrigado!"
Para frisar ainda mais sua reivindicação, cita o episódio de Michael Jackson na locadora Black & White, ao lado de seu apartamento, na alam. Sarutaia.
Durante sua estadia no Brasil, em 1993, Michael entrou nesta locadora -que ficou conhecida desde então como ``a locadora do Michael Jackson"- e pegou uma série de fitas.
Quando a conta chegou, a produção do cantor ficou indignada com os preços, já que nos EUA elas são muito mais baratas que aqui.

Brasil em vídeo
Mas Silvio de Abreu, vez ou outra, precisa recorrer ao mercado nativo, afinal é um grande fã do cinema nacional.
``Mesmo `Bye Bye Brasil' eu comprei lá. Já `A Dama do Cine Shangai' e `A Hora da Estrela', dois filmes que eu adoro e que não encontraria lá fora, comprei aqui", disse.
A paixão do autor de ``A Próxima Vítima" pelo cinema nacional, porém, é anterior aos filmes de Cacá Diegues, Hector Babenco, Guilherme de Almeida Prado e Suzana Amaral, já que as chanchadas são seu gênero preferido.
``A chanchada foi o que de mais popular o cinema brasileiro produziu. Elas eram feitas para o povo, enquanto que o Cinema Novo era sobre o povo. Foi através das chanchadas que descobri minha grande identificação: a comédia", afirma.
Silvio de Abreu associa a chanchada à gênese do cinema. ``O cinema nasceu como entretenimento. Não acredito nesta responsabilidade artística que se coloca em cima do cinema, uma arte popular em primeiro lugar, para grandes multidões."
Aproveita ainda para falar do descaso das distribuidoras em relação a um de seus filmes preferidos: ``Sinfonia Carioca", de Watson Macedo.
``Este filme já deveria ter sido lançado em vídeo", reclama. De Watson Macedo, cita ainda a chanchada ``Aviso aos Navegantes" como um de seus filmes favoritos (veja outros títulos em quadro ao lado).

Cenas de cinema
O cinema nacional não é, porém, a única paixão de Abreu. Nem poderia. Desde a primeira sessão, seu envolvimento com as imagens só cresceu. Infância, adolescência, juventude, toda a vida foi sendo recheada de cenas de cinema.
``Algumas coisas da minha vida têm a ver com histórias de cinema. Por exemplo, eu me casei com minha vizinha. A gente namorava pela janela... Isso tem uma conotação cinematográfica. Pode até lembrar `Meeting Someone Close', com a Judy Garland", conta.
Silvio de Abreu tem uma memória prodigiosa -embora diga que se esquece de fatos recentes. Lembra, por exemplo, da primeira sessão de cinema, quando viu ``Quando as Nuvens Passam".
``Era uma coisa tão bonita ver aquela gente enorme, iluminada, translúcida... Depois daquilo, eu não conseguia entender como alguém podia querer outra coisa da vida a não ser fazer cinema."

Ossos do ofício
Silvio de Abreu ficou com aquilo na cabeça. Pensou até em ser ator, mas depois pensou melhor. Trabalhou na televisão, mudou de emissoras e, nos anos 70, chegou à direção. ``Mulher Objeto", de 1980, seu último filme, chegou a ter muito sucesso, mas ele decidiu fazer valer sua opção pelo popular e voltar à TV.
Como autor de novelas, ele não abdica do vídeo como importante instrumento de trabalho. ``O vídeo é como uma biblioteca. Quando estou trabalhando, da mesma maneira que consulto um livro, eu consulto um vídeo: revejo uma cena, tento captar um clima..."
Silvio de Abreu também usa o vídeo para se atualizar, pois, quando está escrevendo uma novela, perde muitos filmes no cinema. E avisa: não gosta muito de companhia, pois não suporta quem fala no meio do filme. ``É meu prazer solitário."

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