São Paulo, quinta-feira, 1 de junho de 1995
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Loyola deve manter política de antecessor

CARLOS ALBERTO SARDENBERG
DA REPORTAGEM LOCAL

O presidente designado do Banco Central, Gustavo Loyola, embora esteja evitando declarações formais antes da sabatina no Senado, tem disparado sinais de que não haverá mudanças essenciais na política de câmbio e juros do BC.
No início da noite de ontem, Loyola estava com Arida, no gabinete da presidência do BC em Brasília. Hoje de manhã, os dois devem se reunir com o presidente Fernando Henrique Cardoso.
A amigos e antigos colaboradores, Loyola dizia ontem que sua escolha significa que ele está de acordo com o sentido da política econômica do governo.
Mas ontem mesmo, nos meios econômicos, houve uma corrida aos boletins da MCM Consultores Associados, na qual Loyola é sócio de Mailson da Nóbrega.
Clientes da consultoria dizem que, no geral, a MCM e Loyola vêm manifestando concordância com o Plano Real, inclusive no que se refere a seus últimos desdobramentos. Mas em março, a MCM achava que a desvalorização do real não era desnecessária e que o governo não a faria. Ou seja, errou a previsão.
A questão é saber qual a posição atual da MCM sobre a cotação do dólar e a taxa de juros. Em reportagem publicada no último domingo, a Folha trouxe o cenário para 1995, na previsão da consultoria.
Lá se diz que o dólar deve terminar este ano com a cotação de R$ 0,99, acima, portanto, do teto máximo da atual banda de variação da moeda americana, que vai de R$ 0,88 a R$ 0,93.
Mas o que todo mundo quer saber é qual seria o movimento imediato do BC na gestão de Loyola. E há indicação disso. Ontem de manhã, os clientes da MCM receberam um boletim semanal, no qual se diz que, pela primeira vez, apareceram, em maio, sinais de desaquecimento da economia.
Segundo esse boletim, os sinais são: duas semanas seguidas de queda significativa nas vendas e crescimento dos estoques.
Sendo assim, interpretou Claudio Adilson Gonçalez, o terceiro sócio da MCM, a posição da consultoria é a de que nos próximos 60 dias seria ``desnecessária e precipitada" a desvalorização do real.
Desnecessária porque há uma forte entrada de dólares na economia. E precipitada porque causaria inflação e desgaste para o Plano Real, antes que o governo pudesse avaliar o desempenho da economia em ritmo de desaquecimento.
Segundo Gonçalez, o déficit no comércio externo de maio reflete a situação da economia em março, quando estava muito aquecida.
Assim, antes de tomar qualquer decisão em relação a uma eventual desvalorização do real, o governo deveria esperar até o início de agosto, quando o comércio externo estará refletindo a situação da economia hoje.
Se persistir o desaquecimento do consumo, as exportações aumentam, porque se vende menos aqui dentro, e as importações caem, pela retração geral dos consumidores. E não seria necessário mexer na taxa de câmbio.
Quanto aos juros, a posição da MCM é a de que há espaço para uma redução, mas feita cuidadosamente, na medida do desaquecimento da economia.
Tudo considerado, não há divergências notáveis com o andamento do Plano Real.

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