São Paulo, quinta-feira, 1 de junho de 1995
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Mortes em desabamento chegam a 25

LUIZ FRANCISCO; TEREZA RANGEL
DA AGÊNCIA FOLHA, EM SALVADOR

Mais 13 corpos foram encontrados ontem até as 20h30 em São Gonçalo do Retiro (periferia de Salvador, BA), elevando para 25 o número oficial de vítimas fatais em consequência de um deslizamento de terra.
O levantamento oficial está sendo divulgado pelo coronel Aimar Aguiar, do Corpo de Bombeiros, que chefia as equipes de salvamento.
``Somente considero como vítima fatal os corpos encontrados e encaminhados para o Instituto Médico Legal", disse o coronel.
Até as 17h, a Codesal Coordenadoria de Defesa Civil de Salvador) contabilizava 23 mortos.
O Corpo de Bombeiros estima, com base em depoimento de moradores, que de 30 a 40 pessoas podem estar ainda soterradas.
O coronel disse que não acredita em sobreviventes. ``A área está muito compactada e não existe mais oxigênio", disse.
O acidente foi provocado pelas chuvas que atingem Salvador há uma semana (leia texto abaixo). Segundo o Instituto Nacional de Meteorologia, as chuvas devem diminuir de hoje a domingo.
O deslizamento aconteceu por volta das 13h30 de anteontem e soterrou cerca de 40 casas, segundo sobreviventes, moradores do bairro e Polícia Militar. Foram resgatados 21 sobreviventes.
Segundo o Corpo de Bombeiros, a área atingida pelo deslizamento é de cerca de 1.500 metros quadrados (leia quadro ao lado).
O volume de terra deslizada atinge 3.750 metros cúbicos. A terra cobriu a rua rio Branco a uma altura de 2,5 metros, em média.
O deslizamento foi causado por infiltração no barranco, segundo técnicos da prefeitura. As cerca de 40 casas soterradas (algumas de alvenaria) foram construídas próximas ao barranco, que tem cerca de 130 metros de altura.
Uma pedreira desativada há mais de dez anos contribuía para impedir o deslizamento. ``As pedras não conseguiram evitar a infiltração e conter a terra", disse o coronel Aguiar.
Os sobreviventes do deslizamento e outros moradores do bairro que moram em locais considerados de risco estão sendo transferidos pela prefeitura para escolas municipais e estaduais, creches, abrigos noturnos e um galpão da Rede Ferroviária Federal.
Os feridos foram encaminhados para o HGE (Hospital Geral do Estado), Hospital Roberto Santos e Hospital Ernesto Simões.
Ontem pela manhã, 200 pessoas trabalhavam na área atingida pelo deslizamento. No começo da tarde, serviços de remoção dos escombros foram interrompidos por causa das fortes chuvas.
Os trabalhos somente foram reiniciados às 14h30, com a chegada de três tratores. Antes, os serviços eram executados com pás, escavadeiras e enxadas.
A prefeita Lídice da Mata (PSDB) decretou estado de calamidade pública, para facilitar o uso de verbas para as obras emergenciais. Segundo ela, técnicos da Codesal haviam condenado a área do deslizamento um dia antes.
``Os funcionários sugeriram aos moradores a transferência para casas de amigos, familiares, escolas e creches", disse a prefeita.
``Nenhum funcionário da Codesal esteve aqui", disse o marceneiro José Santos Araújo, 32, morador do local.
Desde 1989, as chuvas que normalmente atingem Salvador em abril e maio têm provocado tragédias. O acidente mais grave aconteceu em 1992, quando 30 pessoas morreram após um deslizamento de terra no Lobato, na periferia.

* Colaborou a Redação.

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