São Paulo, quinta-feira, 1 de junho de 1995
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Fuller narra guerra pessoal

INÁCIO ARAUJO
DA REDAÇÃO

Existe, por hoje, o caso ``Bonitinha mas Ordinária" (Bandeirantes, 21h30), interessante especialmente por causa da minissérie ``Engraçadinha", que a Globo acabou de exibir.
Havia ousadias em que a TV não costuma investir. A Globo peitou a coisa, literalmente e em todos os sentidos. Mas havia uma coisa estranha, como se os personagens de Nelson Rodrigues tivessem caído por engano num cenário de novela. Ficou uma mistura de perversão com ``padrão de qualidade", sem que se soubesse exatamente quem servia a quem.
É justamente o problema que não tem ``Bonitinha". O desequilíbrio, as interpretações desiguais, tudo contribui para instaurar um clima de sordidez um tanto superficial, mas que, estranhamente, funciona.
Falando em sordidez, nada melhor do que ``Agonia e Glória" (Globo, 0h). Aqui estamos no terreno do grande cinema. Samuel Fuller faz sua autobiografia de soldado, com imagens de uma força raramente igualada no cinema de guerra, e com Lee Marvin notável na pele de um sargento.
Sua conclusão é a mesma de seu ponto de partida: o único heroísmo na guerra é sobreviver. Nada do que o cinema americano, como norma, tanto se esforçou por demonstrar a respeito da Segunda Guerra.
No homem que vai para o fronte, como bucha de canhão, as idéias e ideais contam pouco. O horror físico dessa experiência é o que o filme procura e consegue transmitir. O apogeu do horror é, claro, a descoberta de um campo de concentração. O espectador é levado a ele não como um fato destacado, mas inserido num conjunto em que a vemos uma aventura da agonia. Agonia sem glória, bem entendido.
(IA)

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