São Paulo, quinta-feira, 1 de junho de 1995
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Gustavos

A substituição de Pérsio Arida por Gustavo Loyola na presidência do Banco Central traz para primeiro plano uma única, inquietante e inadiável questão: mudam os homens, mas mudam as regras?
Há no BC outro Gustavo, o responsável pelo câmbio desde o início do Plano Real, Gustavo Franco. E em boa medida tem sido em nome dessa âncora que o governo adotou uma política de juros elevadíssimos. Será que o novo presidente do BC compartilha com seu xará a mesma convicção na necessidade de subordinar o ajuste da economia à estabilidade do câmbio, que exige juros reais altos?
Nas últimas duas semanas o BC operou de modo inusitado no mercado cambial. Sem reduzir os juros reais, passou a comprar dólares e a promover uma lenta desvalorização do real. As compras foram feitas através do Banco do Brasil e avolumaram-se as suspeitas de que a regra cambial estaria para mudar.
A troca de comando no BC naturalmente agudiza essas dúvidas. É portanto urgente que o novo presidente diga a que vem e adote regras mais claras. É para reduzir de vez os juros e acelerar a desvalorização do câmbio? É para relaxar o aperto de crédito? Ou se trata, ainda, de apostar na âncora cambial, prosseguir no esfriamento da economia e na desindexação total?
Outros economistas já desembarcaram do Plano Real nos últimos meses sem que a prioridade à estabilização deixasse de determinar a lógica intrínseca da política econômica. Francisco Pinto, André Lara Resende e agora Pérsio Arida saíram em momentos de tensão política. Circunstância que até hoje não significou mudança nas regras fundamentais do ajuste.
Mais preocupante é o fato de que Pérsio Arida abandona o posto deixando tarefas inconclusas: a âncora cambial está em xeque, o ajuste definitivo dos bancos estaduais é adiado continuamente, a economia desaquece, mas o déficit no comércio exterior cresce.
Resta portanto saber se há entre Franco e Loyola mais que uma curiosa coincidência onomástica.

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