São Paulo, quinta-feira, 1 de junho de 1995
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Turistas saboreiam atmosfera de riqueza

JOÃO BATISTA NATALI
DO ENVIADO ESPECIAL À FLÓRIDA

Os norte-americanos têm uma expressão saborosa para qualificar os proprietários de antigas e discretas fortunas. É a turma do ``old and quiet money" (dinheiro discreto, herdado há gerações).
É uma maneira de diferenciá-los do novo rico, que precisa se exibir em Nova York, Miami ou Las Vegas por meio de hábitos espalhafatosos de consumo.
Os turistas da classe média de Naples acabam se enquadrando às vantagens desse estilo moderado.
As mulheres não circulam com suas jóias e os homens só excepcionalmente vestem trajes a rigor.
Em Naples, a renda anual de cada família está entre US$ 55 mil, uma das mais elevadas dos Estados Unidos. Aos executivos aposentados, somaram-se recentemente aqueles que trabalham de suas casas, por computador.
São eles que se tornam mecenas para darem um clima cultural raro em cidades tão pequenas.
Naples possui, por exemplo, uma orquestra filarmônica instalada em teatro próprio, terminado em 1989 e custou US$ 3 milhões.
O prédio abriga 260 espetáculos por ano. Entre eles, três montagens de ópera.
Detalhe importante: não há por lá nenhuma boate ou discoteca. A iniciativa privada certamente se deu conta que os veranistas -pouco mais de 2 milhões em 1993, dos quais 20% estrangeiros- são bem mais pacatos que os da Jamaica ou de Cancún, no México.
Naples é a tradução em inglês de Nápoles, a grande cidade meridional italiana.
Sua homônima da Flórida ganhou esse nome porque, em 1890, um cidadão norte-americano tentou criar no local um hotel que hospedaria, a exemplo do que ocorria no Sul da Itália, pessoas com problemas pulmonares.
Os ricos vieram depois. Nos anos 20 e 30, construíram um mecanismo de arejamento que se popularizou na região.
Para enfrentar o calor numa época em que não havia ar condicionado, a casa era feita sobre pequenas colunas de no máximo meio metro e, sobre o segundo andar, uma edícula aberta, parecida a um grande pombal, permitia a evasão do ar quente.
Em 1960, a Flórida foi assolada pelo furacão Donna. Muitas dessas casas foram destruídas. Com o dinheiro recebido do seguro, elas foram refeitas, mas com a incorporação de um luxo que refletisse a prosperidade que a economia americana viveu nos anos 50.
Criou-se, então, um círculo, por assim dizer, ``vicioso": os ricos atraiam outros ricos, eles em conjunto novos hotéis e shoppings.
Uma subsidiária do setor imobiliário da Westinghouse construiu um condomínio horizontal de altíssimo luxo, o The Pelican Bay. Outro condomínio, o The Port Royal, possuia ancorados, na última quinta-feira de abril, sete iates nos ``piers" particulares das mansões.
Mas como todo bom milionário é comedido em seus gastos, os preços em Naples não destoam de qualquer cidade norte-americana.
É possível comprar roupas com grife no Saks Fifith Avenue, no Jacobson's (ambas no Waterside Shops), Terruzzi ou ainda Mondo Uomo (The Village).
Mas o que prevalece é um comércio para classe média alta.
Em duas lojas de CDs em shoppings diferentes, a Spec's Music e a Camelot, os lançamentos recentes custam no máximo US$ 16,99. Na livraria B. Dalton, há a mesma variedade e número de ofertas que em qualquer loja daquela rede em San Francisco ou Chicago.
Quanto aos aparelhos eletrônicos, computadores, trajes para a prática de esportes e calçados idem, o padrão de preços é o norte-americano: algo em torno de 20% a menos que no Brasil.
(JBN)

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