São Paulo, sexta-feira, 2 de junho de 1995
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Empresa aponta irregularidade em processo

NELSON BLECHER
DA REPORTAGEM LOCAL

O vice-presidente da Philip Morris, Richard Sucre, 48, disse ontem que não tinha conhecimento da instalação de escutas telefônicas nos escritórios da Q-Refres-Ko, braço ao grupo.
``Fiquei sabendo pelos jornais", afirmou Sucre, que juntamente com cinco outros executivos e o advogado Cyro Kusano respondem a processo na 19ª Vara Criminal de São Paulo sob acusação de constrangimento ilegal e escuta telefônica ilegal.
Sucre disse, no entanto, que o departamento jurídico agiu corretamente e ``dentro da lei" para proteger o patrimônio da companhia contra suposta tentativa de espionagem industrial praticada por três ex-funcionários, que aparecem como vítimas na denúncia acolhida pelo juiz João Benedito Gabriel.
Segundo Tales Castelo Branco, advogado da Philip Morris, o advogado Kusano possuía autorização judicial para promover a escuta.
O objetivo era detectar se haveria outros aliados dos executivos na companhia e identificá-los.
As linhas diretas da sede da Q-Refres-ko foram interceptadas por iniciativa do 96º Distrito Policial. Como a Telesp informou que não teria condições de gravar os ramais usados pelos executivos, foi contratado para o serviço o escritório do detetive Francisco de Assis Barros, também indiciado no processo.
Castelo Branco entende que a escuta era legal, uma vez que não havia intenção de divulgar publicamente os conteúdos dos telefonemas -que, segundo ele, seriam encaminhados ao delegado responsável pelas investigações.
Para o advogado, a denúncia do promotor conteria irregularidades. ``Os diretores da Philip Morris foram indiciados sem serem ouvidos", diz ele.
Além disso, ele critica a ``falta de critério de investigação". Segundo afirma, a polícia deveria apurar se a acusação de que houve grampeamento também na residência dos executivos ``não foi fruto da atividade deles".
Ele quer que as fitas gravadas oficialmente sejam anexadas ao processo, por serem de interesse da companhia.
Sucre nega que os três executivos -Antonio Carlos Ferreira da Silva, Isael Pinto e José Martinho Quintal de Freitas- tenham sido ameaçados com armas, como relata a denúncia do promotor Marco Ferreira Lima.
Ele afirma que os executivos foram convidados a deixar no local de trabalho, por ocasião da demissão, planos estratégicos e fórmulas industriais. Como relutassem, foi sugerida a presença de força policial.
O vice-presidente da Philip Morris diz que tais métodos não são utilizados pela companhia, nem haveria necessidade de constrangimento para promover as demissões.
Segundo Sucre, um deles, Isael Pinto, fora anteriormente convidado a atuar durante seis meses como consultor da empresa.
Desde 1994, de acordo com Sucre, a empresa sabia que eles estavam vinculados à General Brands, que opera em mercados concorrentes da Q-Refres-Ko, como o de suco em pó.

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